A escuta das diferenças

CARLOS SKLIAR

Conversas sobre inclusao, diversidade e nossa (des)humanidade.

Ape?Ku Editora

Lugar: Rio de Janeiro ; Año: 2023; p. 19 - 34

Pedagogias das diferenças é uma expressão que tem a ver com uma multiplicidade de problemas, questões, dúvidas, modos de ver, de sentir e de pensar, que não têm outro propósito além de se mostrar como uma ética e uma estética de conversação educativa.E é que, há muito tempo, venho sustentando que a educação é uma forma de conversação – e de relação – do todo particular, para além de qualquer outra interpretação conceitual ou disciplinar. Mas não qualquer conversação nem qualquer relação.Trata-se de uma conversação a propósito do que fazer com o mundo, com este mundo, não apenas com o daqui e agora, o que está a nossa frente, o de cada um, a pequena porção de mundo que nos cabe viver e pensar, senão do mundo contemporâneo, desse mundo que se faz presente – proveniente de qualquer ponto e dimensão do tempo – e nos destroça, nos preocupa e ocupa, nos comove, nos desconcerta.A educação é uma filiação com o tempo do mundo, sim, e se dissemina através de corpos distintos, vozes em dissenso, modos de pensar, perceber e falar diferentes.Acaso pode haver “educação” sem uma conversa dessa natureza? O que restaria - ou o que resta - do educativo se conversássemos somente sobre o novo e o inovador, apenas sobre o futuro pré-construído ou unicamente sobre nós mesmos, de um modo mesquinho e com nossas pouquíssimas palavras? E o que seria do mundo se o relatássemos exclusivamente com uma linguagem vazia, sem ninguém dentro? Por isso mesmo a linguagem do educar é ou quer ser narrativa.