MACNBR   00242
MUSEO ARGENTINO DE CIENCIAS NATURALES "BERNARDINO RIVADAVIA"
Unidad Ejecutora - UE
congresos y reuniones científicas
Título:
A SELETIVA ARCA DE NOÉ: OPILIONES (ARTHOPODA: ARACHNIDA) RELICTUAIS CAVERNÍCOLAS EVIDENCIAM A HISTÓRIA GEOCLIMÁTICA DO PLANETA
Autor/es:
ABEL PÉREZ GONZÁLEZ; DANIEL PROUD; SARA F. CECARELLI; JESÚS CRUZ-LOPEZ; BRUNO G. OLIVEIRA DO MONTE; MARIA ELINA BICHUETTE
Lugar:
Cuiabá
Reunión:
Congreso; XXXI Congresso Brasileiro de Zoologia; 2016
Institución organizadora:
Sociedade Brasileira de Zoologia
Resumen:
Organismos com exaptações ao ambiente cavernícola podem ser ?filtrados positivamente? neste meio e estabelecer populações viáveis que permitam a sobrevivência de suas linhagens ante eventos geoclimáticos drásticos. Neste cenário, a estabilidade ambiental cavernícola funciona como uma ?Arca de Noé seletiva? permitindo que certas espécies consigam sobreviver e evoluir neste ambiente enquanto suas populações e grupos irmãos epígeos ou são extintos pela ação de diversos fatores (e.g. mudanças climáticas, exclusão por competição, desastres naturais estocásticos etc.) ou tem suas populações reduzidas, tornado-se periféricas. Estas linhagens sobreviventes constituem os táxons relictuais, testemunhas essenciais que contém evidências para compreender a história evolutiva, biogeográfica e geoclimática no nosso planeta. Dentre os aracnídeos, os hidrófilos e lucífugos opiliões são troglófilos por excelência e contém notáveis espécies relituais troglóbias. Para exemplificar podemos tomar dois exemplos inéditos de opiliões troglóbios neotropicais. O primeiro é a enigmática espécie Stygnomma pecki, troglóbio anoftálmico descrito em 1977 de uma caverna em Belize. Originalmente foi alocado na família Stygnommatidae baseado unicamente em características morfológicas externas, porém seus troglomorfismos altamente pronunciados evidenciavam uma morfologia única, e, consequentemente, seu posicionamento familiar não possuía um embasamento sólido. Uma reanálise deste táxon considerando a morfologia genital e sequências de três fragmentos de genes (COI, 18S e 28S) trouxe resultados surpreendentes. Primeiramente, a morfologia genital descartou a assignação de ?Stygnomma? pecki ao gênero Stygnomma e inclusive à familia Stygnommatidae, porém a genitália masculina era também altamente modificada para arriscar uma hipótese robusta sobre a alocação familiar. A topologia das árvores filogenéticas obtidas a partir de uma análise bayesiana e máxima verossimilhança dos dados moleculares suportam fortemente (BS=99%, PP=1.00) a alocação familiar de ?Stygnomma? pecki em Pyramidopidae, constituindo o primeiro representante desta família para o continente Americano. Pyramidopidae é tipicamente Afrotropical, e a presença deste raro relicto em Belize poderia evidenciar uma ancestral distribuição em Gondwana tropical com uma posterior extinção no Neotrópico, ou um raro evento de dispersão transatlântica. O outro opilião relictual que estamos estudando é um diminuto e despigmentado troglóbio coletado numa caverna do estado de Minas Gerais. Este novo troglóbio, que pertence a um novo gênero para ciência, possui uma morfologia genital que o relacionaao gênero monotípico Tegipiolus da família Kimulidae. Kimulidae é endêmica do Neotrópico e tem uma intrigante distribuição alopátrica. A maioria das espécies está concentrada nas florestas úmidas da Venezuela e do Caribe insular e, para o Brasil, havia um único registro (e isolado) de Tegipiolus pachypus, em Pernambuco. Este novo troglóbio (e relicto) amplia a distribuição da família para mais de 1.000 km para o sudoeste brasileiro e evidencia que a linhagem dos Kimulidae estava amplamente estendida pelo continente em épocas passadas, provavelmente relacionada a presença de florestas úmidas.