Diferença de nível trófico entre Podocnemis expansa e P. unifilis (Testudines, Podocnemididae), na Bacia Araguaia-Tocantins.

MARQUES, T.S.; LARA, N.R.F.; MALVASIO, A.; MONTELO, K.M.; PORTELINHA, T.C.G.; VERDADE, L.M.; DE CAMARGO, P.B.

Curitiba - PR

Congreso; IX Congreso Latinoamericano de Herpetología; 2011

Sociedade Brasileira de Herpetologia

Espécies semelhantes morfologicamente e/ou ecologicamente só podem coexistir desde que haja estratégias para minimizar a competição entre elas, como por exemplo, explorar recursos alimentares distintos em diferentes níveis na cadeia trófica. A utilização do isótopo de nitrogênio é comum em estudos que visam analisar a cadeia trófica de determinado ambiente, pois ocorre um progressivo enriquecimento de átomos de 15N ao longo da cadeia. A transferência de nível trófico geralmente acontece com um aumento de 3 - 5‰ no valor do δ15N. No entanto, são escassos estudos com esta metodologia em quelônios neotropicais. A tartaruga-da-amazônia (P. expansa) e o tracajá (P. unifilis) são espécies simpátricas de quelônios que apresentam ampla distribuição geográfica e detêm grande importância como recurso alimentar para as comunidades ribeirinhas amazônicas. Estes cágados ocorrem de forma simpátrica em diversos locais ao longo de sua distribuição. Este estudo teve como objetivo verificar a possível existência de diferenças de nível trófico entre essas espécies na bacia do Araguaia-Tocantins, Estado do Tocantins, Brasil, utilizando a metodologia de isótopos estáveis. Os cágados foram capturados em setembro e outubro de 2010, no período diurno, por meio de mergulho com captura manual e rede de arrasto, no entorno do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal), no rio Javaés, oeste do Estado do Tocantins. A área de estudo é formada por um complexo ecótono que apresenta elementos do Cerrado e Floresta Amazônica. As razões isotópicas do nitrogênio (δ15N) foram determinadas a partir de amostras de unhas coletadas de 21 indivíduos de tartarugas-da-Amazônia e 20 de tracajá. O tracajá apresentou maior enriquecimento de 15N em comparação com a tartaruga-da-amazônia (médias de δ15N respectivamente, 7,59 ± 1,46 ‰; 5,06 ± 0,88 ‰). Não foi encontrada diferença do δ15N entre os sexos e não houve relação entre massa corpórea e δ15N nas duas espécies. Estes resultados podem indicar uma possível exploração distinta dos recursos alimentares, com conseqüente redução na competição entre ambas espécies.