INVESTIGADORES
GLOZMAN Mara Ruth
congresos y reuniones científicas
Título:
Narrar e proscrever: esquecimento, persistências, efeitos de arquivo (Argentina, 1956)
Autor/es:
GLOZMAN, MARA
Lugar:
Recife
Reunión:
Simposio; VIII SEAD - O político na Análise do Discurso; 2017
Institución organizadora:
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Resumen:
O golpe de Estado que deixou inconcluso o segundo governo peronista pode ser lido como um hiato na produção de formas, dispositivos e instrumentos estatais orientados ao apagamento de um adversário, de experiências políticas, de uma rede de significantes. Da multiplicidade de documentos produzidos no seno do governo do Estado logo do golpe, esse trabalho se propõe analisar ?como ponto de referência para uma leitura mais amplia? dois. O primer documento está constituído pelo decreto-lei 4161, mediante o qual se institucionalizou a proibição dos significantes ?peronismo?, ?peronista?, ?justicialismo?, a menção dos nomes ?Perón? e ?Eva Perón?, e outros elementos considerados análogos; o segundo é o Libro negro de la segunda tiranía, um volume que compila informes e matérias produzidos pela Comisión Nacional de Investigaciones, criada com o propósito de identificar e dar a conhecer ?os crimes da ditadura deposta?. Trata-se de documentos concomitantes que apresentam funcionamentos, a nosso entender, diferentes e articulados. O primeiro constitui um lugar onde se materializa um equívoco entre o efeito performativo do acontecimento jurídico e a correlação de forças da conjuntura: precisa nomear para proibir aquilo que está nomeando; proscreve aquilo que não pode deixar de nomear. O segundo, composição heterogénea de textos, está dominado por uma forma discursiva, por um modo específico, político, de organizar a trama textual: a narração. Sobe a forma legal da proibição e sobe a forma narrativa, ambos documentos institucionalizam modos de nomear, silenciam e estabilizam sentidos, dados, datas e relações de causa-consequência que continuam marcando os discursos sobre o ?primer peronismo? até a atualidade. Partindo de uma caracterização dos materiais referidos, esse trabalho propõe um movimento duplo: refletir sobre a relação entre as formas discursivas e seus funcionamentos no arquivo (o efeito político da articulação proibição-narração), e analisar uma serie de textos produzidos nas últimas décadas nos quais podem se-identificar enunciados do Libro negro de la segunda tiranía e do decreto-lei 4161 que continuam deixando traços. Em particular, para o segundo movimento, será apresentada uma serie de formulações relativas a certos domínios de objetos ou esferas: cultura, educação, ciência e propaganda. O trabalho tentará mostrar, numa serie dispersa de fragmentos, a persistência das tensões ao redor da nominação e a persistência da forma narrativa que habilita, inclusive em textos historiográficos, a ausência de aquilo que os historiadores definem como fontes. Os documentos de 1956, esquecidos e apagados, sem ser referidos nem conhecidos, continuam provendo significantes e verdades evidentes.