INVESTIGADORES
SOFÍA Estanislao
capítulos de libros
Título:
Dois tipos de entidade e dois modelos de ?sistema? em Ferdinand de Saussure
Autor/es:
SOFÍA, ESTANISLAO
Libro:
O projeto de Ferdinand de Saussure
Editorial:
Parole
Referencias:
Lugar: Fortaleza; Año: 2014; p. 179 - 204
Resumen:
A questão da determinação das unidades linguísticas sempre esteve no centro da atenção de Saussure. A linguística, dizia ele, tem ?por tarefa determinar quais são essas unidades? que, em sua época, permaneciam ?mal definidas? . E ?não somente essa determinação das unidades que ela maneja será a tarefa mais premente da linguística como, fazendo isso, ela terá cumprido inteiramente sua tarefa? (Cours II, Riedlinger, p. 21). Essas passagens provêm da aula de 30 de novembro de 1908, uma das primeiras do segundo curso de linguística geral. Dois anos mais tarde (6 de maio de 1911), durante uma entrevista com Léopold Gautier, Saussure admitia ainda que seu ?sistema de filosofia de linguagem? não estava ?elaborado o bastante? (SM, p. 30) e até garantia que, embora esses temas o tivessem ocupado fazia muito tempo, numerosíssimas dúvidas subsistiam ainda para que ele imaginasse expô-los a seus ouvintes. Dito isso, ele avançava que ?o essencial é o problema das unidades? (SM, p. 30) . Em 5 de maio de 1991, na véspera, Saussure tinha se perguntado sobre o fato de saber ?quais são as entidades concretas que compõem a língua? (Cours III, Constantin, A, p. 78), questão sobre a qual retornará no momento final do curso, em 27 de junho de 1911 (ver epígrafe). Essa questão das unidades ou entidades o preocupou (de maneira ?quase obsedante?, segundo Raffaele Simone [2006, p. 41]) ao longo de toda a sua reflexão. O tema, portanto, é complexo e comporta vários aspectos. Nosso propósito é abordar um desses aspectos e mostrar que é possível formular duas respostas a essa questão ? ainda que nos limitemos somente ao corpus das notas que têm a ver com os três cursos de linguística geral (1907-1911). A primeira, sugerida talvez a Saussure pelo hábito dos estudos indo-europeus de outrora, requer a observação de um sistema de valores puramente diferenciais, expressão que conhecerá seu maior desenvolvimento no quadro da fonologia, sobretudo em Praga, e que fará nascer o conceito de ?fonema?. A outra entidade postulável, no caso o ?signo?, não é redutível a caracteres puramente negativos e diferenciais e exige, assim, que se considere um sistema outro que não o das puras diferenças; esse sistema Saussure pode apenas esboçar.Aqui não nos alongaremos em torno dos motivos que presidem a essa divergência. Nosso único objetivo é mostrar que existem (e não como Saussure chegou a eles, nem por quê) dois esquemas conceituais diferentes ? e de certa maneira opostos ? a partir dos quais é possível ordenar as teses saussurianas, e que cada um desses esquemas supõe um protótipo diferente de unidade linguística.