WHICH EVOLUTIVE PROCESSES GUIDE HEALTH CARE STRATEGIES? A MICROEVOLUTIVE ANALYSIS OF A LOCAL MEDICAL SYSTEM

FLÁVIA ROSA SANTORO; ALBUQUERQUE, ULYSSES PAULINO

Congreso; XVI Congress of the International Society of Ethnobiology; 2018

Universidade Federal do Para

Entre muitas questões evolutivas que permeiam os estudos de sistemas médicos, uma das mais polêmicas é se a implementação do sistema biomédico representa uma ameaça a sistemas médicos locais, substituindo-os gradativamente. Outra questão que vem sendo cada vez mais estudada é se a percepção local sobre a frequência e a gravidade das enfermidades atuam na seleção dos traços culturais sobre o conhecimento de plantas medicinais para trata-las. Nosso estudo se debruça sobre essas questões tomando a perspectiva microevolutiva dos vieses de seleção que atuam na evolução cultural, utilizando como modelo um sistema médico local em dois tempos distintos. Os dados sobre as enfermidades e as plantas medicinais conhecidas para trata-las foram coletados na população rural do Carão, em Altinho, PE, Brasil, nos anos de 2017 e de 2015, utilizando o mesmo protocolo de coleta de dados em ambos recortes temporais. Em 2015 foram ainda realizadas entrevistas para coletar dados sobre o conhecimento de fármacos do sistema biomédico e sobre a preferência de busca de tratamento entre os dois sistemas, além de oficinas participativas para acessar a percepção local sobre a gravidade e a frequência das enfermidades nos últimos anos. Encontramos que o conhecimento de plantas medicinais aumentou ao longo do tempo entre as enfermidades em que há maior conhecimento sobre tratamento com fármacos industriais, revelando que os diferentes sistemas médicos não competem entre si, mas se complementam. Além disso, as pessoas ainda preferem recorrer a modelos do sistema médico local, mostrando que existem vieses de seleção cultural que favorecem o sistema médico local, mesmo havendo popularização do sistema biomédico. O compartilhamento de tratamento e o número de plantas medicinais aumentaram ao longo do tempo entre as enfermidades consideradas mais frequentes, mas não entre as mais graves, revelando que a frequência de um evento é um importante viés de seleção que guia os processos de evolução cultural.