"Pode o torturador falar? Reflexões sobre as memórias de agentes da repressão ditatorial no Brasil e na Argentina"

DUARTE, LUCAS

Simposio; VII Simpósio de Pesquisa Estado e Poder - "Direitos, democracia e lutas sociais em tempos de crise"; 2019

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

A publicação, nos anos 80, dos textos de Gayatri Spivak reunidos sob o título ?Can the Subaltern Speak??, gerou, nas ciências humanas, uma série de debates sobre as complexas - e desiguais - relações entre os sujeitos representados e seus representantes, com base em críticas reiteradas aos métodos de representação. A alusão a essas obras, no entanto, assume no título deste trabalho um significado muito diferente: reconhecendo a potência de algumas questões epistemológicas levantadas por Spivak, propomos indagar o local, os sentidos e, no limite, a validade do discursos de ex-agentes do Terrorismo de Estado sob os governos militares do Brasil (1964-1985) e Argentina (1976-1983). A partir da análise de obras testemunhais ou pretensamente historiográficas publicadas por ex-membros das Forças Armadas dos dois países, procuraremos examinar seu significado político, sua inserção e ressonâncias no debate público contemporâneo. Para isso, nos dedicaremos a uma leitura conectada de publicações como El ultimo de facto, de Reynaldo Bignone, e os livros publicados por Carlos Alberto Brilhante Ustra, "Rompendo o Silêncio" e "A verdade Sufocada". Mais do que uma análise detalhada de cada um desses textos, estamos interessados em refletir sobre seu conteúdo cardinal, prestando atenção às afinidades e divergências na construção de seus argumentos. Apesar de produzido e dedicado às realidades nacionais e a contextos históricos muito diversos, acreditamos que sua interpelação aproximada pode ser útil à compreensão de elementos decisivos da política contemporânea nos dois países.