O espaço da cultura na luta pela reforma agrária: meandros do Encontro Nacional de Violeiros

THALITA CAMARGO ANGELUCCI

Porto de Galinhas

Congreso; VIII Congreso Latinoamericano de Sociología Rural; 2010

Os trabalhadores rurais envolvidos na luta pela reforma agrária realizada peloMovimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST na região de Ribeirão Preto-SPvivenciaram o êxodo rural compulsório, desencadeado com maior intensidade em meados dosanos de 1960 e, mais recentemente, o desemprego estrutural provocado pela mecanização daslavouras. Considerando o processo de desenraizamento desses trabalhadores, entendido comoperda de referências sociais e culturais, o MST ocupa-se com a continuidade da luta pela terramesmo depois da oficialização dos assentamentos, desenvolvendo um conjunto de ações eatividades tanto no campo político e econômico quanto no campo simbólico e ideológico.Com esta pesquisa procuramos compreender qual é o papel da cultura popular nofortalecimento da luta pela reforma agrária realizada pelo MST na região de Ribeirão PretoSP, a partir da análise do IV Encontro Nacional de Violeiros e Festa da Semente em Louvor aSão Francisco de Assis. Analisando informações obtidas a partir da nossa participação noprocesso organizativo deste Encontro, realizado entre 02 e 08 de outubro de 2006,procuramos: 1. resgatar a história e sistematizar a memória do evento; 2. entender o sentido ea importância do evento no contexto da luta pela reforma agrária na região; 3. compreender oprocesso organizativo do evento, destacando aspectos relacionados à cooperação comométodo que possibilitou a sua realização; e 4. analisar os possíveis impactos e as repercussõesdo evento no processo de formação dos trabalhadores rurais assentados. Informações obtidaspor meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os coordenadores e participantes deoito oficinas preparatórias, violeiros, organizadores e demais participantes da festa foramconfrontadas com as informações registradas em diário de campo, com documentos e notíciasjornalísticas existentes no acervo do MST, bem como com os registros fotográficos efilmográficos. O IV Encontro Nacional dos Violeiros e Festa da Semente em Louvor a SãoFrancisco de Assis, mais do que uma festa popular, foi um importante espaço sócio-educativo,de mobilização e organização dos trabalhadores rurais. O processo organizativo da festa sevaleu dos princípios da cooperação e foi realizado por meio de oito oficinas, entendidas comoprocessos socioculturais com componentes educativos ou formadores na constituição daidentidade Sem Terra. As oficinas tiveram a dupla finalidade de contribuir na preparação doevento e ensinar aos participantes técnicas de confecção de tambores, expressão corporal,adorno e ornamentação, brinquedos e brincantes, formação em comunicação, luthieria,produção de sementes e iniciação musical à viola caipira. A festa resultou do trabalho coletivode, aproximadamente, 300 pessoas que, ao participarem da organização, também discutiramtemas relacionados à cultura popular. As estratégias culturais do MST nesta região, marcadapelo avanço do agronegócio sobre a agricultura camponesa, têm contribuído para fortalecerpoliticamente as comunidades rurais através da valorização da memória e dos valorescoletivistas. Estes desdobramentos podem contribuir com o processo de enraizamento dessessujeitos ao projetarem um modo de vida que, além da reprodução social imediata, procurafortalecer a luta social por eles empreendida.