Experiências de prostitutas na formacao do Mangue: Rio de Janeiro, 1920

SCHETTINI, CRISTIANA

Rio de Janeiro

Congreso; Seminario Internacional sobre o Impacto dos Mega-Eventos Esportivos nas Paisagens do Sexo no Brasil; 2018

Observatorio da Prostituicao - IPPUR - UFRJ

As medidas policiais das primeiras décadas do século XX, ao concentrar as casas de baixa prostituição no Mangue, deixaram as prostitutas brasileiras, racialmente marcadas por todos os observadores locais e estrangeiros, vulneráveis aos arranjos de moradia e de trabalho com mulheres estrangeiras. Em outras palavras, a organização espacial e social da prostituição no Rio de Janeiro dos anos 20 abriu a possibilidade de acumulação ampliada por parte de certas mulheres brancas, com base na exploração do trabalho sexual de certas mulheres negras, em condições protegidas pela vigilância policial. Essa dimensão da exploração sexual não foi contemplada nem pelos observadores estrangeiros, nem pelas categorias da legislação brasileira contra o proxenetismo. Embora especialidades sexuais associadas às mulheres de ascendência africana como as inquilinas de Fanny fossem mais valorizadas, eram mulheres brancas como Fanny que tinham mais acesso à propriedade e à necessária negociação com a polícia. Para que isso acontecesse, contribuía significativamente a possibilidade de entrar na categoria de ?escravas brancas?. Em suma, as noções de ?escravas brancas? e de ?tráfico de mulheres?, construídas e negociadas nesses circuitos atlânticos, ganharam sentidos locais, no Rio de Janeiro, de legitimar, e invisibilizar, a exploração do trabalho de mulheres brasileiras e negras.