O tigre e os qom no Gran Chaco argentino. Uma análise das relações homen-animal

MEDRANO CELESTE

Porto Alegre

Congreso; XIII Reunião de Antropologia do Mercosul; 2019

Univerdidade Federal de Rio Grande do Sul

Alguns anos atrás, quando terminamos de editar em parceria um livro sobre a zoologia dos Qom ? um grupo indígena do Gran Chaco ?, percebi que a ordem em que imprimíramos as fichas dos animais que discutíamos na composição do manuscrito refletia taxonomias acadêmicas. Assim, propusemos um exercício que consistia em desordenar e reordenar a sequência de fichas, o que nos aproximou de uma classificação dos animais de acordo com o ponto de vista indígena. Neste novo arranjo, o quiyok ou tigre (onça, Panthera onca) apareceu em primeiro lugar. Esta espécie, abundante na Argentina até meados ou final do século XIX, hoje encontra-se severamente ameaçada. Biólogos e conservacionistas atribuem seu desaparecimento à alteração do seu ambiente característico, à caça motivada pelo valor de sua pele e a sua reputação como animal perigoso para o gado. Pelo destaque dado ao animal sob risco de extinção, nota-se que, curiosamente, tanto indígenas quanto conservacionistas encontram nos tigres uma das espécies mais preciosas de suas zoologias. Propomos, neste texto, analisar etnograficamente os elos entre os Qom e o quiyok discutindo as noções indígenas de animalidade e humanidade. No entanto, nossa aposta será, lançar luz sobre os significados que imprimem convergências e divergências entre as diferentes zoologias ? indígenas, crioulas, acadêmicas e conservacionistas ? comparando nossos dados de campo com aqueles produzidos pelos conservacionistas que atuam no campo de proteção dos tigres.