INVESTIGADORES
LISKA Maria Mercedes
congresos y reuniones científicas
Título:
Mulheres, trabalho e disputas morais na periferia do Recife: As Amigas do Brega como reconfiguração dos grupos femininos na música brega em Pernambuco
Autor/es:
SOARES, THIAGO ; LUCI PEREIRA, SIMONE ; LISKA, MERCEDES
Lugar:
Medellín (finalmente virtual)
Reunión:
Congreso; Formación, Trabajo y Economías de la Música Popular en América Latina; 2020
Institución organizadora:
Asociación Internacional para el Estudio de la Música Popular-Latinoamérica
Resumen:
A presença de cantoras na música brega em Pernambuco (estado do Nordeste do Brasil) emerge a partir do final da década de 1990 como resultado de um conjunto de fatores: 1. como demanda mercadológica e de disputa de mercado envolvendo bandas com vocalistas mulheres presente em gêneros musicais populares do Nordeste do Brasil (notadamente o forró); 2. a migração da banda paraense Calypso para Recife como parte de uma estratégia de busca por novos mercados para shows, que agencia sonoramente e esteticamente grupos formados por mulheres como um "modelo bem sucedido"; 3. a partir da disputa simbólica dentro do gênero musical brega marcadamente masculino a partir da presença de cantores e personagens das canções que encenam o "homem galanteador" e romântico. O formato "banda feminina" se consagra no brega de Pernambuco a partir de inúmeros grupos (como Metade, Ovelha Negra, Frutos do Amor, Musa do Calypso, Lolyta) sempre oscilando entre formações com mulheres cantoras ou com "casais" cantores (um vocalista homem e uma vocalista mulher que "encenam" o romantismo das canções). Em 2016 surge o grupo Amigas do Brega, formado por cantoras originárias de "bandas femininas" do brega, num projeto que claramente demarca um posicionamento: "as maiores vozes de uma geração". É a partir de uma entrevista em profundidade realizada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com as Amigas do Brega em agosto de 2019 - atividade integrante do projeto Música Pop Periférica na América Latina: Análise dos Contextos Brasil-Argentina (com financiamento do CNPq) que delimita-se questões em torno da trajetória das mulheres na música brega de Pernambuco. Aponta-se para esta comunicação, cinco eixos sobre a problemática em torno da presença feminina no brega pernambucano: 1. sobre o formato de grupos musicais com mulheres (a negociação de formatos de bandas protagonizada por uma cantora ou por casais para um modelo de "girl group" consagrado na música pop a partir de artistas como Spice Girls e Rouge); 2. sobre a trajetória de se tornar cantora nas periferias do Recife (disputas morais envolvendo a carreira artística); 3. disputas geracionais na cena brega envolvendo consagração e valores atrelados ao canto como lógicas distintivas; 4.disputas sobre pautas afirmativas no tocante às políticas de gênero e ao feminismo; e 5. relações sobre corpo da mulher da periferia e o trabalho como artista/ musicista e questionamentos sobre machismo e sobre políticas de autorreconhecimento. A partir de uma problematização complexa, como é a abordagem de gênero em cruzamento com questões de raça e de classe social, outra das perspectivas de análise que será aprofundada nesta pesquisa é a articulação - entre proximidades e disjunções ? do brega pernambucano com gêneros/ritmos/estilos musicais advindos da América Latina Hispânica -como o reguetón, a bachata, a cumbia, entre outros - buscando compreender aspectos das conexões aí existentes e sentidos de uma noção difusa e complexa de ?latinidade? construída no Brasil no que tange à música e à cultura (Pereira, 2015; Pereira e Herschmann, 2018).