Argentina: do desencantamento da modernidade à força dos lugares

SILVEIRA, MARÍA LAURA

Continente em chamas. Globalização e Território na América Latina

Civilização Brasileira

Lugar: Rio de Janeiro; Año: 2005; p. 177 - 207

Buscamos mostrar os sucessivos sistemas técnicos construtores da inserção do país nos mercados mundiais. No início do século XX, a população argentina, engrossada pelas migrações européias, era sobretudo urbana e a hegemonia do porto de Buenos Aires, marcante. O resultado foi uma totalidade espacial monocéfala, reforçada pela arquitetura política da nação. Em meados do século, a industrialização doméstica superpõe-se à divisão territorial do trabalho anterior. É um momento de importantes migrações internas e de expansão dos consumos de todas as espécies. Mais tarde, a transnacionalização da finança, da indústria, da agricultura e dos consumos criará circuitos espaciais de produção que não cessam de alargar sua escala. Todavia, o território era viscoso para a ação dos novos atores. O diagnóstico da inviabilidade torna-se o fundamento ideológico para as reformas normativas que, desse modo, permitiram remodelar a base material. É assim que se difunde o meio técnico-científico-informacional. Concessões, privatizações e complexos mecanismos de subsídios públicos são os alicerces da modernização de infraestruturas viárias e infoviárias, telecomunicações, energia, petróleo e gás, portos e aeroportos. Um território reticular é criado e recriado sob o motor de uma finança que, com a chegada de bancos globais, fundos de investimento e fundos de pensão, torna-se determinante na imposição de divisões territoriais do trabalho particulares no espaço nacional.