Metropolização, território e circuito superior marginal

SILVEIRA, MARÍA LAURA

O espaço e a metropolização. Cotidiano e ação

Consequência

Lugar: Rio de Janeiro; Año: 2017; p. 333 - 353

As modernizações territoriais contemporâneas, com base na tecnociencia, na informação e nas finanças, reforçam as atividades econômicas capitalizadas desenvolvidas nos centros empresariais, nos mercados globalizados e nas localizações modernas na cidade e no território. Entretanto, tais atividades coexistem com um conjunto de atividades integradas, porém subordinadas, dependentes e com diferentes níveis de sobrevivência, e com um conjunto de divisões territoriais do trabalho pouco capitalizadas que se vinculam à economia hegemônica em situação de vulnerabilidade. Em virtude dos conteúdos de ciência, técnica, informação e finanças no território, a atual divisão do trabalho torna-se mais complexa e, desse modo, aumenta o número de agentes e ocupações que podem inserir-se nessa nova ordem com diferentes níveis de subordinação. Tratar-se-ia de uma relação de necessidade recíproca entre aqueles que comandam as transformações e aqueles que apenas acompanham o passo, cumprindo tarefas complementares e indispensáveis, mas com baixa ou nenhuma capacidade de fixar o preço dos produtos e serviços que oferecem. Daí a ideia de uma porção marginal no seio do circuito superior.Contudo, se a existência dessa porção marginal parece um elemento estrutural da forma em que evolui o atual modo de produção na economia urbana, os agentes que a conformam têm vida efêmera, submetidos como estão às mudanças brutais dos fatores de produção. Tais agentes podem encontrar-se, hoje, numa situação emergente e, amanhã, numa situação residual. No quadro de uma teoria dinâmica, como é a interpretação dos circuitos da economia urbana, a porção marginal despontaria como um conjunto de agentes e atividades ainda mais sensível ao movimento das sucessivas modernizações. Para aprofundar a análise da porção marginal propomos retomar, num exercício de atualização, três premissas explicitadas no livro O espaço dividido, que Milton Santos publicou em francês em 1975: a) crítica à ideia de continuum da produção; b) crítica à associação direta com a noção de classe social e à afirmação de um terceiro circuito; c) a porção marginal só existiria na fabricação moderna. Finalmente discutimos o papel do fenômeno técnico contemporâneo.