INVESTIGADORES
SILVEIRA Maria Laura
capítulos de libros
Título:
A cidade, feixe de razões e temporalidades
Autor/es:
SILVEIRA, MARÍA LAURA
Libro:
Transversalidades 2015 fotografias sem fronteiras viagens, paisagens, imagens
Editorial:
Centro de Estudos Ibéricos
Referencias:
Lugar: Guarda; Año: 2015; p. 146 - 148
Resumen:
Hoje o peso da produção material na metrópole tende a diminuir em função dos processos de desconcentração industrial que, todavia, estão longe de alcançar os estabelecimentos do circuito inferior e, inclusive, a porção marginal do circuito superior. Malgrado a difusão concentrada das variáveis contemporâneas, nossa época conhece, mais do que nunca antes, uma banalização dos sistemas técnicos que, em arranjos diversos, redefinem as forças produtivas, as relações de produção e, em definitivo, os lugares. Daí o uso desses novos meios de produção entre os mais pobres. Cada um ao seu compasso é capaz de usar os dados da época e o fenômeno técnico na contemporaneidade é prova incontestável disso. Mais divisível, a técnica atual permite renovar o conteúdo das formas materiais passadas, dando-lhes novo sentido. Uma verdadeira presentificação do que já existe, no dizer de Sartre. Nos centros antigos e deteriorados das metrópoles, mas também nas periferias cuja formação é mais ou menos recente podemos observar uma profusão de formas simples de fabricação, comércio e serviços, incluindo especialmente a reparação de objetos banais e de objetos tecnológicos avançados. Do conserto de panelas ao de computadores e celulares, esse conjunto de agentes participa do tempo da globalização e amplia, ao seu ritmo, a base técnica contemporânea. Eis o circuito inferior, cujos atores amiúde dividem e unificam o trabalho, não sem bulício, em espaços públicos. São paisagens onde os corpos estão presentes, os capitais são pequenos e as combinações técnicas podem ser surpreendentes. A aglomeração é a condição de existência para os agentes e atividades da pobreza. Quem carece de força para criar demanda apenas pode sobreviver onde esta já existe. Nos densos centros das metrópoles cada pedaço da calçada desponta como uma oportunidade de dividir os custos da centralidade e de aproveitar os enormes fluxos de pedestres. Escadas, paredes, estações de metrô, trens e ônibus, mercados de rua, pontos fixos e intermitentes, associações impensadas de ramos são a arena de uma economia cuja organização é um dado a ser repensado a cada dia.