INVESTIGADORES
SILVEIRA Maria Laura
capítulos de libros
Título:
Metropolização e circuitos da economia urbana
Autor/es:
SILVEIRA, MARÍA LAURA
Libro:
Desafios da metropolização do espaço
Editorial:
Consequência
Referencias:
Lugar: Rio de Janeiro; Año: 2015; p. 99 - 124
Resumen:
Tendência constitutiva do atual período histórico, a metropolização não parece ser apenas um momento superlativo da urbanização, mas um processo de extrema divisão social e territorial do trabalho, atravessado por complexas formas de cooperação entre agentes de desigual grau de capital, tecnologia e organização. A complexidade estrutural e funcional da metrópole permite vê-la como uma totalidade menor dentro da formação socioespacial nacional, sendo esta o verdadeiro quadro explicativo dos processos de urbanização. Entretanto, a metrópole pode ser entendida como uma totalidade menor ou uma sub-totalidade porque, no vasto meio construído que constitui sua base material, é possível reconhecer agentes com rendas e formas de produção e consumo muito diversas que revelam, na contigüidade, boa parte da suas interdependências e complementaridades. Esse é um dado constitutivo e singular da metrópole que a diferencia das demais manifestações do fenômeno urbano.Tal disparidade entre as divisões territoriais do trabalho permitir-nos-ia reconhecer dois circuitos da economia urbana que, longe de compor uma dualidade, se definem por uma existência unitária e por uma oposição dialética. Por um lado, ambos os circuitos participam da unidade e da definição do fenômeno urbano e, por não possuírem existência independente, não podem ter autonomia de significado. Por outro lado, um não se define sem o outro, são opostos e complementares, mas, para o circuito inferior, a complementaridade é uma forma de dominação. Quando os graus de tecnologia, capital e organização que caracterizam uma divisão do trabalho são altos, trata-se do circuito superior, incluindo sua porção marginal; quando são baixos, trata-se do circuito inferior.Nesta ocasião buscaremos analisar a dinâmica dos circuitos da economia metropolitana, atentando para alguns elementos constitutivos e relacionais que determinam sua existência. Constitutivamente definidos pelo capital, tecnologia e organização, os circuitos são também movimento em função das sucessivas modernizações da divisão territorial do trabalho hegemônica. Para não perder o passo, os diversos agentes são impingidos a readaptar-se e a incorporar as novas variáveis. Face aos novos dados técnicos e às novas equações de lucro, sua capacidade de adaptação e de criação de novas combinações produtivas acaba por reformular o limite que os separa. Por isso, tal limite tem um valor relacional que advém da redefinição dos elementos constitutivos que opõem dialeticamente os circuitos. Relações desiguais e limites se reforçam entre si. Dentre os elementos constitutivos poderíamos mencionar a expansão da mancha urbana, a diversidade do tecido urbano e o tamanho e intensidade dos mercados, cujas manifestações são, entre outras, os modernos centros empresariais e financeiros, as áreas de especialização e de diversidade, os eixos de comércios e serviços, as sub-centralidades populares, os mercados de rua. Nesse contexto, a metrópole permite o desenvolvimento de atividades modernas que se retroalimentam, desvendando o crescimento auto-propulsivo do circuito superior. O estudo sistemático dessas atividades permitiria compreender as quantidades e qualidades da relação de domínio da metrópole sobre o território nacional, a partir de topologias territoriais que revelam as divisões territoriais do trabalho particulares e hegemônicas e a chegada de técnicas, produtos, dinheiro, informações, normas e marcas aos diversos lugares, tantas vezes esvaziando de funções certas cidades regionais. Tais atividades relacionais modernas são tanto mais onipresentes quando a metrópole abriga também as funções de capital política do país. Nesse processo, o sistema financeiro, as agências de publicidade, os atacadistas e os intermediários permitem perfazer o quadro da integração do território, alterando a vida de relações dos lugares. Por outro lado, a tendência a uma aglomeração aumentada nas metrópoles desponta como causa e conseqüência da constituição do circuito inferior. A aglomeração de atividades na contigüidade é a razão de existência para os pequenos agentes da economia urbana. Desse modo, nos centros deteriorados, nas periferias ou nos mercados de rua, o circuito inferior encontra refúgios para sua localização e para o desenvolvimento de tarefas que agregam menos valor aos seus produtos. A coexistência com outros atores em condições semelhantes permite, apesar da fragmentação do tecido urbano, o convívio de mão-de-obra, pequenos capitais, técnicas diversas e pessoas com vontade de consumo. Elementos como a chegada de imigrantes, particularmente pobres, à grande cidade, a interdependência da oferta e da demanda ou a financeirização das diversas camadas sociais descortinam as articulações verticais e horizontais entre os circuitos metropolitanos. Ao ritmo do endividamento permanente, os pobres, nativos ou imigrantes, podem consumir e também trabalhar em atividades de sobrevivência.Não podemos, entretanto, esquecer a existência de uma porção marginal do circuito superior, nascida da complexidade de tarefas vinculadas à tecnificação, normatização e financeirização da economia contemporânea e à expansão dos consumos materiais e imateriais. Tal porção torna possível, ao mesmo tempo, que as grandes empresas possam diminuir seus custos e que numerosos agentes acompanhem, de forma desigual e incompleta, a modernização da economia e do território. Ainda que não se trate de um circuito intermediário, essa divisão do trabalho caracteriza-se pelas atividades de relação entre as demais formas de economia.