IIF   26912
INSTITUTO DE INVESTIGACIONES FILOSOFICAS
Unidad Ejecutora - UE
capítulos de libros
Título:
FERNANDO BRONCANO E A COMPREENSÃO DO FENÔMENO TECNOLÓGICO A PARTIR DA CATEGORIA DE MODALIDADE: TOMAR AS COISAS PELA RAIZ
Autor/es:
LAWLER, DIEGO
Libro:
Filosofia da tecnologia: seus autores e seus problemas
Editorial:
EDUCS
Referencias:
Lugar: Caxias do Sul; Año: 2022; p. 93 - 106
Resumen:
A filosofia da técnica de Fernando Broncano é uma das visões conceitualmente mais densas, ricas e desafiadoras encontradas nas discussões filosóficas sobre tecnologia das últimas duas décadas. É um ponto de vista que, originalmente, foi desenvolvido em constante diálogo com as reflexões filosóficas sobre tecnologia que surgiram na Universidade de Salamanca na década de oitenta do século passado sob a influência das ideias de Miguel Ángel Quintanilla (LAWLER, 2020) , onde a tecnologia surge como um verdadeiro problema filosófico e não como resultado derivado do desdobramento de elaborações de discussões sociológicas, políticas ou éticas.Há diferentes maneiras de apresentar a abordagem de Broncano sobre a tecnologia. No entanto, na minha opinião, há uma chave para interpretá-lo, a saber, vê-lo como uma forte reação a qualquer forma de determinismo na filosofia da tecnologia, seja pessimista ou otimista. Isso nos leva ao ponto de partida metafísico de seus estudos da tecnologia. A ideia norteadora de sua abordagem é a seguinte. A tecnologia é uma classe particular de ação humana que consiste em realizar algumas das “possibilidades pragmáticas” que compõem o espaço de alternativas tecnológicas sobre as quais os projetos são imaginados e montados . As “possibilidades pragmáticas”, como veremos na próxima seção, surgem da combinação de possibilidades conceituais, físicas, técnicas, moralmente desejáveis etc., que se constrangem mutuamente e compõem o panorama de possibilidades de ação para transformar a realidade e produzir o mundo artificial.Por conseguinte, o ponto de partida correto para analisar a tecnologia é uma metafísica das possibilidades frente ao determinismo, comprometido com a necessidade das ocorrências tecnológicas e contra a causalidade cega. Tratar a tecnologia a partir da metafísica das possibilidades implica colocar a agência humana no centro da reflexão filosófica e, portanto, analisar o conteúdo da tecnologia como produto do exercício da liberdade humana, sujeita a imputações de responsabilidade por suas consequências, ainda que essas possam, às vezes, não ser tão diretamente evidentes .As "possibilidades pragmáticas" realizadas pelos agentes coletivos em uma determinada époa histórica constituem verdadeiras formas sociais de vida que incorporam objetivos, desejos, representações, emoções, interesses, distribuições de poder, formas de organização da produção e reprodução social etc. Essas possibilidades realizadas tornam-se oportunidades para expandir e enriquecer a capacidade humana de vislumbrar planos e transformar a realidade de acordo com esses planos. De fato, o conjunto de possibilidades pragmáticas de uma sociedade em um dado momento identifica o conjunto de suas capacidades de imaginar, representar e construir um mundo de coisas, que é uma expressão direta do exercício da liberdade dos seres humanos sob condições que não controlam completamente. A realização de algumas possibilidades desse conjunto implica um compromisso com profundas transformações em diferentes partes do mundo devido à execução de ações tecnológicas.Nas seções que seguem, quero traçar pelo menos três linhas de interpretação sobre o fenômeno tecnológico, dentre as muitas que decorrem da tese metafísica que sustenta o andaime filosófico proposto por Fernando Broncano. Em primeiro lugar, abordarei sua análise do design com o propósito de caracterizar possibilidades pragmáticas. Em segundo lugar, apresentarei sua tese sobre os artefatos como carentes de "matéria ativa e significado" que realizam e "vivem" sua história na cultura material da qual fazem parte. Terceiro, descreverei algumas das consequências políticas que se seguem dessa visão filosófica da tecnologia para os cidadãos do mundo de hoje. Finalmente, recolherei alguns aspectos que a investigação filosófica de Broncano deixa levantados e que estimulam a continuidade da conversa filosófica. Nesta apresentação vou me ater ao corpus constituído por seus três livros seguintes: Mundos artificiales. Filosofía del cambio técnico (2001); Entre ingenieros y ciudadanos. Filosofía de la técnica para días de democracia (2006); y La estrategia del simbionte. Cultura material para nuevas humanidades (2012).