INVESTIGADORES
VALVERDE Sebastian
capítulos de libros
Título:
Do Deserto à Fronteira: conformação do Estado-Nação: pioneiros, povoadores e indígenas na Patagônia Setentrional, Argentina
Autor/es:
VALVERDE, SEBASTIÁN
Libro:
FRONTEIRAS PLATINAS Território e sociedade
Editorial:
Universidade Federal da Grande Dourados-COED: Editora UFGD
Referencias:
Lugar: Dourados, Mato Grosso del Sur; Año: 2011; p. 107 - 131
Resumen:
Na região da cordilheira dos Andes, especificamente na Patagônia Setentrional argentina, a fronteira efetiva com o Chile, país vizinho, consolidou-se somente bem avançado o século XX, ou seja, várias décadas após sua delimitação formal. De fato, as zonas do território argentino assentadas ao leste da Cordilheira dos Andes (que atuam como limite geográfico entre a Argentina e o Chile) foram tradicionais abastecedoras de gado para o mercado do Pacífico e continuaram mantendo, por um longo período, sólidos contatos econômicos e socioculturais com os centros e os portos chilenos. A débil presença institucional de ambos Estados facilitou a persistência de tais relações, convertendo a fronteira em um espaço social de longa duração (Bandieri, 2009). A conquista militar dos territórios indígenas denominada eufemisticamente "Conquista do Deserto" que se deu no final do século XIX, ao gerar profundas transformações, atuou como primeiro elemento desestruturador desse funcionamento fronteiriço. No entanto, as tendências mercantis sobreviveram com novas regras e com outros atores até bem avançado o século XX. Ambos Estados nacionais, com a queda do modelo exportador ocasionado pela crise internacional dos anos ?30 e pelo aprofundamento do modelo substitutivo de importações, impuseram controles econômicos e policiais ao trânsito na cordilheira, desestruturando assim, definitivamente, estas vinculações. Nesta região da Patagônia Setentrional, área em que nos focaremos para este trabalho, a Direção (logo Administração) de Parques Nacionais, com a fundação no ano de 1934 do ?Parque Nacional Nahuel Huapi? (primeira área protegida de América do Sul) desempenhou um papel fundamental. Desde então e até nossos dias, esta instituição exerceu um papel predominante no desenvolvimento regional a partir do controle efetivo do território, da imposição de uma identidade característica e das obras realizadas baseadas em uma estética aristocrática e europeizante de estilo "Alpino", e, agora assim contrastando com os tempos anteriores, da conformação da efetiva fronteira com o vizinho país do Chile. A política em respeito aos povoadores assentados nestas áreas foi muito diferenciada e polarizadora, seja por que se tratava de habitantes "prestigiosos", de alto poder econômico e político (geralmente de origem europeia) ou devido aos seus escassos recursos (indígenas e crioulos, a maioria de origem da transcordilheira). No presente trabalho, propomo-nos analisar o processo de constituição da fronteira política entre a região da cordilheira da Patagônia Setentrional e o vizinho país do Chile nas primeiras décadas do século XX e, concomitantemente, as redefinições nas fronteiras ?internas? com os povoados indígenas e crioulos de escassos recursos. Para isto, foram impostas diversas classificações sociais que implicaram múltiplas formas de inclusão e exclusão social. Visualizaremos como, à medida que o Estado-Nação foi se consolidando na região, buscou-se incorporar a população de poucos recursos (indígenas e crioulo) de forma subordinada e, ao mesmo tempo, definiram-se e consolidaram-se categorias sociais que foram centrais no momento de definir um posicionamento sobre tais sujeitos na estrutura social regional.