Ilegalidade, criminalidade e doença: um olhar antropológico sobre os desafios e limitações das políticas de drogas

BRÍGIDA RENOLDI

Mercados ilegais, violência e criminalização

Alameda

Lugar: São Paulo; Año: 2016;

A invenção da ?droga?, como categoria de classificação de substâncias e efeitos, inscreve-se em uma historia de proibições que condicionou a relação entre o homem e os meios pelos quais alcançava determinados estados psicofísicos e espirituais. A centralidade que foi adquirindo o indivíduo, em tanto noção moderna de pessoa, contribuiu com esse processo classificatório ao afirmar uma série de dualismos, dos quais a distinção entre homem e natureza que pressupôs o domínio racional do primeiro sobre a segunda é apenas um exemplo. Não se tratou simplesmente de distinguir elementos em uma escala de nocividade, mas também de associar a eles formas de conduta derivadas dos efeitos, que conservam até hoje um claro sentido moral sustentado nas oposições entre saúde-doença e legalidade-ilegalidade. Sobre essas configurações se assentaram os alicerces das políticas de drogas em nível sanitário e de segurança pública, dominadas de modo geral pelo paradigma medicalizante e repressivo. Baseada na história das proibições, nas características da política mundial de drogas e nos meus estudos etnográficos sobre práticas de atendimento, de investigação judiciária e de controle policial, indagarei o suporte conceitual que define universos morais do ponto de vista do Estado. Na mesma direção contexto analisarei as consequências implicadas em algumas iniciativas de mudança que questionam parcialmente os princípios que regem as políticas públicas de segurança e de saúde nos universos pesquisados na Argentina e no Brasil.