Des-etnificação e islamização. A identidade muçulmana na comunidade do Rio de Janeiro

MONTENEGRO, SILVIA

Muçulmanos no Brasil: comunidades, instituições e identidades.

Editora Universidad Nacional de Rosario y Universite Mohammed V

Lugar: Rosario; Año: 2013; p. 21 - 54

No seio da SBMRJ, a desarabização significou um proceso complexo de reelaboração identitária. Esse processo, longe de já estar acabado, é uma das tendências atuais e um dos dilemas mais fortes que essa comunidade teve que enfrentar. Nesse sentido, consideramos o papel de certos agentes dessa comunidade, mais especificamente os dirigentes, que formam uma espécie de quadro intelectual do grupo. Enquanto tais, eles empreenderam uma série de esforços visando construir uma identidade singular. De um lado, foi necessário assinalar o papel da língua árabe nesse meio, pois não pareceria ser possível admitir que esta acabasse sendo fonte de identificação dentro da comunidade. Detectamos, então, que a língua árabe foi redefinida apenas como língua corânica, e que essa redefinição, longe de minimizá-la, lhe confere centralidade, mas em um contexto renovado. O idioma árabe deve ser adquirido pelos membros, pois desta forma estarão em condições de ler o Corão em sua escritura original, preservando, assim, a literalidade. Podemos dizer que a língua árabe é valorizada apenas dentro desse contexto específico, pois em outros aparece relativizada. Tal é o caso das atividades de culto, já que na mesquita do Rio, à diferença de outros grupos do Brasil, os sermões que sucedem a oração coletiva dos fiéis, nas sextas-feiras, sempre foram pronunciados em árabe e português. Nesse sentido, também consideramos essa tendência como um processo de des-etnificação, impresso na versão do Islam construída nessa comunidade de interpretação.