Arquivo e vida na poesia de Ana Cristina César

FLORENCIA GARRAMUÑO

Rio de Janeiro

Jornada; Séries, coleções e arquivos; 2006

Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Casa Rui Barboso

A sede carioca do Instituto Moreira Salles abriga os papéis de Ana Cristina Cesar em um acervo que parece desarmar toda idéia de coleção, série, e, até, arquivo. E não porque esse arquivo não esteja caprichosamente ordenado: pastas primorosas organizam poemas, em várias versões corrigidas; múltiples cadernos amparam versos e desenhos, se bem que com muitas anotações nas margens e correções; outros papéis –resumos de leituras, de cursos, de projetos, cartas recebidas ou mensagens para destinatários incertos que nunca foram mandadas, ou traduções, encontram um certo ordem na sua organização em pastas e cadernos. Mas essa ordem –com muito, sem dúvida, de intervenção póstuma de outras mãos que não são as de Ana Cristina- é uma ordem em excesso instável: traduções e cartas aparecem nas pastas de poemas, desenhos interrompem conjuntos de poemas ou espiam desde as margens instáveis desses poemas, ou os atravancam velozes com suas proliferações de formas; pequenos desenhos diminutos em procissão constante pelas páginas de seus cadernos de desenhos também são atravancados por rascunhos de poemas, escrituras, e letras.