Poesia e sentidos

GARRAMUÑO, FLORENCIA

Niterói

Simposio; Subjetividades em devir; 2007

Universidade Federal Fluminense, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

O artigo analisa uma característica mais geral de um tipo de poesia mais contemporânea que, no seu centrar-se sobre a percepção e os sentidos, viabiliza também uma intensa circulação de emoções e sentimentos para os quais, no entanto, o sujeito acha-se ausente ou, pelo menos, minimizado ou despersonalizado. No poema de Carlito, a paisagem infinita vista desde a janela quere se domada pela esquadria, mas ao transformar a pura visualidade –“a púrpura sobre a serra”- em movimento que como fumaça se desata da lenha, a apelação aos outros sentidos desborda, no parapeito da janela, a possibilidade dessa contenção. O poema, portanto –em versos de diferente extensão- vê-se ele mesmo agitado por uma tensão entre a contenção da forma e o seu desborde, entre a esquadria e as “deserções da geometria”. Muito embora o sujeito lírico não apareça formalmente no poema –se bem que poderia ser postulado como o olhar mesmo do que o poema está falando- a paisagem aparece impregnada de uma intensa sensibilidade que conjuga objetivismo e emotividade.