Por uma poética erótica da relação

BIDASECA KARINA

Mandaçaia

Lugar: Sao Paulo; Año: 2024 p. 150

978-987-813-366-9

Quando criei o conceito de “poética erótica da relação”, eu o imaginei como um sonho coletivo e uma imaginação pública; como uma costura que pode nos ajudar a fechar e a cicatrizar a ferida colonial, inspirada em Audre Lorde e Édouard Glissant.Recentemente, em sua intensa película de 16 mm, de 2014, filmada na Palestina, a artista Noor Abed produziu “Penélope”. Nos encontramos com uma mulher numa paisagem árida, rodeada de peixes mortos. É a mãe do artista, e nesta performance está tecendo, com fios imperceptíveis, uma multiplicidade de peixes, convertendo-os em algo semelhante a uma colcha de retalhos. Uma memória que resiste à proibição colonialista, imposta por Israel, de mergulhar no mar. Esses peixes mortos no deserto ocupado, espalhados por todo território da Palestina, são agora, pela ação de suas mãos, costurados em uma tentativa, talvez, de reunir a diáspora.Neste trabalho, o conceito que deu lugar ao título do livro atua como sinédoque, reclamando uma narrativa histórica e uma memória alternativa para as devires palestinas que somos. Penso na relação com a política espacial do corpo e sua performatividade, interpelada pelas imagens visuais das artistas; entre o passado e as futuridades, para produzir uma nova imagem do passado contemporâneo.