INVESTIGADORES
RAMOS Ana Margarita
capítulos de libros
Título:
Memórias, violências e investigação colaborativa
Autor/es:
RAMOS, ANA MARGARITA; VERDUM, RICARDO
Libro:
Memórias, Violências e Investigação Colaborativa. Contribuições teóricas, metodológicas e ético-políticas ao fazer etnográfico
Editorial:
E-papers Serviços Editoriais Ltda/ ABA Publicaciones
Referencias:
Lugar: Río de Janeiro; Año: 2020; p. 7 - 56
Resumen:
O caminho que nos levou até este livro vem sendo trilhado faz alguns anos. Transitando por distintos territórios, nossos caminhos se cruzaram pela primeira vez no processo de preparação de uma coletânea sobre autodeterminação, autonomia territorial e acesso à justiça de povos indígenas na América Latina. Em tempos mais recentes, na organização de um dossiê temático para uma revista dedicada ao tema do acesso à justiça e direitos nas Américas, e na coordenação de um simpósio no 3º Congresso Internacional Povos Indígenas da América Latina (CIPIAL). Neste livro, pretendemos dar um passo mais nesta caminhada colaborativa de reflexão sobre memória. Reunirpesquisadores que, a partir do seu trabalho de investigações, aprofundassem a discussão e trouxessem relevantes contribuições teóricas, metodológicas e éticas para o estudo de processo socioculturais com pessoas e comunidades vivendo em contextos de violência e terror ou que foram afetadas por ações de violência política na América Latina. Na sua organização, partimos de duas premissas principais. A primeira é que a memória (seja ela social, coletiva, histórica ou individual) é um campo de disputas sociopolíticas. Um campo onde o recordar, o falar, o silenciar e o esquecer estão sujeitos às micropolíticas da vida cotidiana e aos limites estabelecidos por poderes constituídos em diferentes escalas e âmbitos, agindo de maneira sutil ou enérgica. Daí porquê falar de lembranças e esquecimentos impostos e em processos de domesticação do lembrar (Briones 1994; Verdum 1994; Ramos 2011).A segundo premissa é que as investigações com memórias têm se mostrado um importante meio de promoção de direitos,de construção e reestabelecimento de capacidades de agencia individual e/ou coletivae acesso à justiça, beneficiando particularmente aos setores da população em situação de exclusão política e de discriminação social, econômica, étnica e racial. Aqui estão incluídos, dentre outros, os setores sociais explorados, humilhados, desterrados e reprimidos por grupos sociais que constituíram e que controlam, em seu benefício, os aparatos de poder estatal e/ou paraestatal. Inclui também os indivíduos e as comunidades afetadas por conflitos armados desencadeados no interior dos Estados nacionais ou em decorrência de disputas entre Estados por território e recursos naturais; e os sobreviventes de processo de massacre ou violência de grande magnitude (Stavenhagen 1996; Jelin 2002; Degregori 2003; Wittmann 2007; Crespo 2014; Ulfe e Pereyra Chávez 2015; Jimeno, Varela e Castillo 2015; Cruz 2018; Delrio et al. 2018).Outra qualidade que nos esforçamos porreunir neste livro foi a atitude de colaboração e comprometimento intelectual, afetivo e político das pesquisadoras e dos pesquisadores com os seus interlocutores e interlocutoras. Isto por entender que na ausência desta atitude, tanto o esforço investigativo,como a compreensão gerada no empreendimento antropológico, correm sérios riscos de não alcançarem níveis aceitáveis de validade (Cardoso de Oliveira 1993; Leyva et al. 2015).Por fim, deixamos aqui registrado os nossos agradecimentos aos autores e autoras dos capítulos que integram este livro, que prontamente se incorporaram ao projeto de torna-lo possível e a ele dedicaram sua experiência e capacidade sentipensante. Também a todas as demais pessoas que de diferentes maneiras viabilizaram esta realização, em especial ao professores e colegas Antonio Carlos de Souza Lima e Claudia Briones.