O faro: habilidades, experiências e situações em um ambiente de controle de fronteiras na Argentina

BRÍGIDA RENOLDI

Conflitos de (grande) interesse: Estudos sobre crimes, violências e outras disputas conflituosas

Garamond

Lugar: Rio de Janeiro; Año: 2013; p. 83 - 114

Este capítulo parte de uma pesquisa etnográfica realizada na província de Misiones, situada na fronteira da Argentina com Paraguai e Brasil. Por meio da narrativa de situações e experiências, apresentarei aqui o contexto social, institucional, ambiental e geopolítico em que a Gendarmería Nacional, força de segurança argentina de formação militar que se ocupa da custódia das fronteiras e estradas nacionais, realiza o trabalho específico de controle e repressão do contrabando e outros crimes. Para tanto, relato primeiramente o modo como entrei em contato com os agentes, acentuando a narrativa de aspectos mínimos (olhares, sensações, gestos, tons de voz) que tornaram possível o entendimento em um primeiro encontro com uma das autoridades da instituição. Procuro também representar imagens e impressões dos acessos a Posadas, como cidade de fronteira internacional e interprovincial. Nessa chave, são vistos os lugares em geral, e aqueles em que a Gendarmería em particular operacionaliza as ações de controle. Busco tornar visível um aspecto difícil de conceituar, mas inegavelmente presente nos humanos: o olfato, o faro. Essa habilidade, mais ou menos "treinada" formalmente em escolas (policiais, acadêmicas), resulta antes da integração das pessoas em seus ambientes do que de uma separação entre pessoa e ambiente pela qual a primeira incide intencionalmente sobre o segundo. Na descrição do trabalho específico, mostrarei qual é o lugar atribuído pelos policiais ao faro na constituição de seu saber. Em seguida, revisarei, a partir dele, as ideias de "estereótipo" e "arbitrariedade", com o propósito de compreender os aspectos e dimensões que condicionam, conformam e possibilitam a ação dos agentes da Gendarmería Nacional.