INVESTIGADORES
BAÑA Martin
capítulos de libros
Título:
Ouvir a cultura ou queimar o futuro? Rússia e Europa no ámbito da invasao da Ucrânia
Autor/es:
MARTÍN BAÑA
Libro:
Ensaios sobre a guerra. 2022 Rússia Ucrânia
Editorial:
Kinoruss
Referencias:
Año: 2022; p. 203 - 222
Resumen:
A invasão da Ucrânia decidida pelo Kremlin em 24 de fevereiro deste ano foi interpretada de várias maneiras. Imediatamente surgiram análises que tentaram apresentar a incursão russa como uma resposta ao que poderia ser visto como uma provocação da OTAN, apesar de tal motivação mal figurar nos discursos de Vladimir Putin. Outras explicações tentaram ir um pouco mais longe e procuraram os motivos da tentativa do presidente russo de reviver não a União Soviética, mas o antigo Império Russo. De Moscou também deram sua própria versão dos acontecimentos: tratava-se de combater o neonazismo e reparar um "erro histórico" cometido por Lênin e os bolcheviques, apesar de as evidências para apoiar ambas as teses serem escassas ou nulas. Um dos argumentos mais interessantes, no entanto, foi o que recorria à ideia de que a liderança russa buscava restaurar um mundo russo [russky mir], formado pela população de língua russa que estava espalhada pelos territórios da antiga União Soviética União após a sua dissolução e que o Kremlin deveria resgatar e proteger. Além das possíveis elucidações sobre a invasão, o que a guerra revelou é que a Ucrânia é apenas um elemento secundário (que pode fazer o papel de "punição exemplar") e que o que está realmente em jogo nessa disputa é uma luta pela hegemonia global em um contexto de realinhamentos de liderança. Assim, as ações da Rússia visam desafiar a ordem global multilateral, pondo fim à hegemonia ocidental e postulando o país como líder da nova ordem civilizacional, cujo cerne conteria uma orientação mais tradicionalista e conservadora. Nesse sentido, seria a expressão particular de um fenômeno mais geral ligado ao ressurgimento mundial do neoconservadorismo. Nessas interpretações, porém, é relegado um aspecto que começou a crescer ao longo dos meses, que reforça o conflito e está intimamente ligado a todos os anteriores: a ideia de que a Rússia deve se separar de uma Europa vacilante e decadente.