INVESTIGADORES
SCHAUFLER Maria Laura
capítulos de libros
Título:
Mulherismo e feminismo na capoeira argentina
Autor/es:
SCHAUFLER MARÍA LAURA
Libro:
O legado de Ritinha da Bahia: mulheres no jogo da resistência
Editorial:
Edufba
Referencias:
Lugar: Salvador de Bahia; Año: 2021; p. 275 - 289
Resumen:
No dia 3 de junho de 2015, a convocatória Ni una menos, na Argentina, significou um momento de rompimento na história dos movimentos das mulheres no país. Com uma demanda agregadora do feminismo em todas as suas expressões e do movimento de mulheres diverso, complexo e múltiplo, Ni una menos deu visibilidade ao problema das violências de gênero para toda a sociedade e instalou a consigna: Não nos calaremos mais, tanto nas ruas como nas redes virtuais. O movimento iniciou um caminho sinuoso, mas veloz, de questionamentos à ordem sexista, que recuperandoou a história das lutas feministas passadas. Com a popularização e massificação do feminismo, as estruturas patriarcais foram fortemente interpeladas em diversos âmbitos da cultura, das artes e dos esportes. Os questionamentos chegaram à capoeira para discutir a ordem de poder assentada no sexismo, nos discursos e nas práticas diferenciadas por gênero. Embora, ao contrário de outros esportes, a inclusão das mulheres tenha se desenvolvido praticamente desde o começo da capoeira no país, essa integração não baniu por si só os sentidos machistas e heteronormativos, muito pelo contrário. No marco histórico da quarta onda feminista, as mulheres capoeiristas começaram a reunir-se em coletivos e a questionar certas práticas baseadas na tradição seletiva de corpos e gêneros com que a capoeira se desenvolveu no país, especialmente na década de 1990. O movimento de massas nas ruas comoveu os coletivos. As redes virtuais fizeram o mesmo, conectando mulheres capoeiristas e distribuindo conteúdos feministas. Tais redes ultrapassaram as fronteiras dos grupos geralmente dirigidos por homens e possibilitaram conhecer-se, relacionar-se, compartilhar experiências, pareceres, e táticas frente às violências sexistas. Este texto recupera reflexões suscitadas a partir de 15 entrevistas que realizei entre 2019 e 2020 com mulheres argentinas que têm dirigido projetos de capoeira no país. O objetivo deste trabalho é explorar o ponto de inflexão em que nos encontramos: os sentidos e as práticas da capoeira que estão sendo questionados no calor das marchas, reivindicações e protestos feministas que buscam apagar as fronteiras patriarcais traçadas, e imaginar novos horizontes para uma arte não sexista.