“Juventudes Mobilizadas frente à Violência Policial” - uma abordagem psicossocial da manifestação an rrepressiva em Córdoba - Argentina

ROLDAN MACARENA DEL VALLE

Belo Horizonte - Minas Gerais

Conferencia; Parceria NuH e Crisp - Conferência com professora convidada da UNC, Argentina (FAFICH-UFMG); 2022

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Federal de Minas Gerais

Nesta palestra eu proponho fazer um breve percorrido pelo processo de pesquisa da minha tese de doutorado em Psicologia. Nesse trabalho, eu analisei os processos de subjetivação política de jovens cordobeses que se manifestam contra a violência policial numa ação coletiva chamada Marcha de la Gorra –“Marcha dos Bonés”, em português–, em Córdoba, Argentina. Da mesma forma, darei especial ênfase à estratégia metodológica que orientou o estudo com o objetivo de socializar algumas dessas ferramentas com as e os estudantes participantes do Seminário Temático.Nas últimas décadas, inúmeros relatórios, denúncias e ações de organizações políticas e territoriais, bem como do campo acadêmico, se preocuparam em visibilizar e denunciar processos de violência aos que estão expostas as juventudes de setores populares na Argentina. Dentre elas, destacam-se as ações da instituição policial e as políticas de segurança voltadas para setores específicos da população. Particularmente em Córdoba, a configuração de cenários repressivos adota como alvo principal às juventudes de setores populares. O assédio policial materializa-se nos controles excessivos que encontram para circular/habitar o tecido urbano, notavelmente nas zonas centrais da cidade. Isso se traduz em interceptações policiais, requisições e prisões arbitrárias. Soma-se a isso o aumento de casos de “gatillo fácil” (dedo frouxo) ou uso letal da força nos últimos anos, e o alto grau de intervencionismo nos bairros marginais da cidade.Diante desses processos de policiamento, a chamada “Marcha dos Bonés” vem ocorrendo na cidade de Córdoba há quinze anos. Essa ação coletiva constitui uma experiência de organização juvenil que se tornou referência no movimento antirrepresivo, em nível nacional. A Marcha acontece durante uma tarde de novembro nas principais ruas de Córdoba. Isso é particularmente importante tendo em vista que esses jovens são diariamente expulsos dos espaços principais da cidade, por meio dos intensos controles policiais. Milhares de jovens de diversos bairros participam da mobilização, com o objetivo de denunciar as situações de abuso e assédio policial que vivenciam no dia a dia.Desde 2014, juntamente com uma equipe de pesquisa da UNC, desenvolvemos uma etnografia coletiva em torno dessa manifestação a partir de uma perspectiva psicossocial. No âmbito da minha tese de doutorado, entrevistei mais de sessenta jovens que participam na organização e desenvolvimento da Marcha. A partir do trabalho de campo percebemos que a produção de linguagens, afetações e práticas compartilhadas que se mobilizam no espaço público configuram processos de resistência tecidos coletivamente. A apropriação intempestiva do espaço público por esses jovens configura processos de politização que perduram para além da mobilização, ao mesmo tempo em que introduzem importantes transformações subjetivas em seus participantes. A pesquisa fundamenta-se numa abordagem qualitativa e etnográfica, com particular interesse pelos sentidos singulares e coletivos que os atores juvenis constroem na experiência da Marcha. Dadas as múltiplas temporalidades (fase de preparação; jornada de mobilização; efeitos e ressonâncias) e territorialidades (Mesa Organizacional; rua e espaço público; bairros e territórios) que esta ação coletiva apresenta, foi importante contar com metodologias flexíveis e abertas.