INVESTIGADORES
GOMES Gabriela Daiana
capítulos de libros
Título:
Apropriações seletivas das ditaduras ibéricas e a direita radical na Argentina e no Chile da década de 1930
Autor/es:
GABRIELA GOMES
Libro:
O Estado Novo de Salazar. A difusão de uma terceira via autoritária na era do fascismo
Editorial:
Lugar da História
Referencias:
Lugar: Coimbra; Año: 2022; p. 265 - 290
Resumen:
As ditaduras europeias que surgiram no período entre guerras favoreceram a difusão de movimentos políticos e de círculos intelectuais de direita radical na América Latina. Durante este período, em oposição à ‘direita tradicional’ conformada pelos partidos oligárquicos, nasceu uma ‘nova direita’, organizada em novos partidos, movimentos políticos e grupos de intelectuais, alguns dos quis inspirados pela doutrina social da Igreja e outros inspirados pelos regimes autoritários europeus. Os grupos nacionalistas adotaram um caráter ativista, desenvolvendo os seus próprios programas e organizações políticos, e foram publicados revistas e jornais semanais para partilhar as suas propostas. Admiravam sobretudo o Fascismo italiano e o Nacional-Socialismo alemão, bem como a ditadura de Miguel Primo de Rivera, a Falange Espanhola e o regime de Salazar em Portugal. Grupos de intelectuais desempenharam um papel prominente na promoção e adaptação das ideias da direita radical europeia aos seus contextos políticos nacionais. A Grande Depressão de 1930 e a Guerra Civil Espanhola fomentaram ainda mais a desilusão para com o liberalismo e os sistemas políticos existentes. Na Argentina e no Chile, a crise internacional agravou a instabilidade política. Isto tornou-se evidente no surgimento de publicações e grupos de direita radical com tendências corporativas, filofascistas e integralistas católicas. Todos eram anticomunistas, antiliberais, antidemocráticos e alguns deles perfilhavam o antissemitismo. Consideravam a ‘cultura centrada no estrangeiro’ como uma ‘ameaça’ para a tradição nacional e afirmavam que uma ‘nova ordem social’, autoritária e baseada em visões orgânicas da sociedade, tinha de ser implementada para ‘ultrapassar’ os erros da democracia. Entre as suas máximas estavam a defesa do estado, a promoção da ordem corporativa, a luta anti-imperialista, e a defesa das tradições hispânicas e católicas. Estas ideias eram especialmente atrativas entre os círculos intelectuais que lançaram uma cruzada política contra a república liberal e oligárquica, a favor de um projeto corporativo para reorganizar a relação entre o estado e a sociedade, enquanto alternativa ao fascismo e ao totalitarismo europeu. Alguns exemplos destes círculos foram os que se encontraram envolvidos na Nueva República e na Criterio na Argentina, ou na Estudios no Chile, e organizações políticas tais como a Legión Cívica Argentina, a Acción Nacionalista Argentina, o Movimiento Nacional Socialista Chileno, e a Milicia Republicana. Advogavam uma ‘Nova Ordem’ baseada na democracia orgânica e na sociedade harmónica e hierárquica. Defendiam um projeto corporativo social e político baseado na colaboração harmoniosa das classes sociais, com um ‘estado’ forte a servir de mediador para favorecer a criação de sindicatos que ‘solucionassem’ os conflitos sociais. Nesse sentido, a ditadura de Primo de Rivera e os regimes de Francisco Franco e António Oliveira Salazar eram exemplos autoritários apelativos. Como é sabido, o hispanismo e a influência do regime de Franco foram relevantes para a direita radical argentina e chilena. O regime de Salazar, contudo, era também um modelo apelativo, sobretudo entre os grupos católicos. Neste capítulo, farei uma revisão das apropriações seletivas, das adaptações, e dos usos políticos da Falange Española e dos regimes de Franco e Salazar feitos pelos grupos católicos e nacionalistas na Argentina e no Chile, enquanto modelos ‘apelativos’ para fornecer alternativas à luta de classes na década de 1930.