INVESTIGADORES
COCKLE Kristina Louise
congresos y reuniones científicas
Título:
Ecologia e conservação das aves que nidificam em ocos de árvores
Autor/es:
COCKLE, KRISTINA L
Lugar:
Passo Fundo
Reunión:
Congreso; XX Congresso Brasileiro de Ornitologia; 2013
Resumen:
Globalmente, mil espécies de aves precisam de cavidades das árvores para fazer
seu ninho. A maioria delas são espécies não-escavadoras de ocos que dependem
de outras aves (as escavadoras como pica-paus) ou processos (como apodrecimento
pelos fungos) para a produção de cavidades. Então, as espécies não-escavadoras estão
ligadas às escavadoras numa rede ecológica interespecífica. Para conservar os
animais não-escavadores é importante conservar os processos que geram as cavidades
que eles usam. Onde existe alguma medida de conservação para estas espécies,
geralmente é conservar as árvores mortas, onde os pica-paus podem produzir ocos.
As cavidades escavadas pelos pica-paus predominam na América do Norte, mas estamos
achando que no resto do mundo os não-escavadores usam mais as cavidades
não escavadas. Em uma rede de ninhos no Norte da América, descobrimos que as
espécies de aves responsáveis para a produção de ocos foram mudando ao longo de 14
anos, na presença de um pulso de alimento, gerando alterações previsíveis na arquitetura
da rede. Uma visão estática desta rede tinha identificado o Colaptes auratus
como espécie ?chave? para manter toda a comunidade de aves não-escavadoras de
ocos. Uma visão dinâmica revelou que quando ocorreu o pulso de alimento, incrementaram
as populações de outras espécies de aves escavadoras, e também o uso
de seus ocos pelas aves e mamíferos não-escavadores. Por tanto, a espécie ?chave?
perdeu importância, e a equitatividade da rede incrementou. A conservação desta comunidade
está funcionando bastante bem com um enfoque na conservação dos substratos
pelos pica-paus, ainda com desmatamento de muitas árvores não utilizadas
para ninho. No resto do mundo, onde a maioria dos ocos são feitos pelo apodrecimento
dos troncos e galhos, perguntamos se os pica-paus podem regular a abundância
de ocos em ambientes alterados pelos humanos, salvando o hábitat para as espécies
não-escavadoras. Primeiro, é importante saber se a quantidade de ocos limita
a densidade populacional. Houve um considerável debate na literatura sobre se as
cavidades limitam a densidade de reprodução em florestas tropicais e subtropicais,
mas havia poucos dados de campo. Na mata Atlântica da Argentina, descobrimos
que o manejo seletivo da madeira removeu da floresta 50% da área basal, 66% das
árvores grandes, 90% dos ocos e 94% dos ninhos em ocos. Adicionar caixas-ninhos
resultou em aumentos na densidade de aves fazendo ninho na floresta onde tiraram
madeira e também na floresta primária, amostrando a melhor evidência até hoje que
a abundância de ocos limita a densidade reprodutiva nas florestas tropicais o subtropicais.
Segundo, descobrimos que na floresta primária as aves não-escavadoras qua-
1 Louisiana State University AgCenter, Baton Rouge, LA, USA. Proyecto Selva de Pino Paraná, San Pedro, Misiones, Argentina.
Department of Forest and Conservation Sciences, University of British Columbia, Canada. kristinacockle@gmail.com.
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XX CONGRESSO BRASILEIRO DE ORNITOLOGIA
Universidade de Passo Fundo x 04 a 07 de novembro de 2013
se sempre (95% das vezes) fazem seu ninho em ocos produzidos pelo apodrecimento.
Estes ocos ocorrem principalmente em árvores vivas infestadas por fungos da família
Hymenochaetaceae. Em contraste, na floresta degradada e nas pastagens, ocorre
uma nova via de produção de ocos: os não-passeriformes (tucanos, papagaios, etc.)
seguem usando em seu maioria (88%) os ocos produzidos pelo apodrecimento, mas
os passeriformes às vezes usam ocos de apodrecimento (45%) e outras vezes (55%)
ocos produzidos pelos pica-paus. Nas florestas degradadas e nas pastagens, essas
duas classes de ocos ocorrem em árvores ou galhos mortos infestados por fungos da
família Polyporaceae. Então os pica-paus e os fungos Polyporaceae podem compensar
a perda de grandes árvores antigas vivas, mas apenas para um subconjunto de
passeriformes não-escavadoras de ocos. Ao longo do tempo e do espaço, e em resposta
aos distúrbios, muda a identidade dos organismos responsáveis pela produção das
cavidades. Os diferentes organismos que podem gerar cavidades às vezes parecem
ser funcionalmente equivalente, mas eles podem produzir cavidades utilizadas apenas
por um subconjunto de espécies não-escavadoras. Na mata Atlântica Argentina,
mesmo que conservamos 100% dos pica-paus, conservaríamos apenas uma pequena
porção das cavidades, e, provavelmente, um subconjunto de espécies não-escavadoras
limitado a poucas espécies de passeriformes. Em sistemas onde o apodrecimento
forma a maior parte das cavidades de árvores nas matas primárias, precisamos de
políticas que estipulam o número e o tamanho das árvores para deixar na floresta,
para estimular a conservação e recrutamento de árvores velhas que possam formar
cavidades naturais pelo apodrecimento.