O consumo como investimento: a teoria do capital humano e o capital humano como ethos

LÓPEZ RUIZ, OSVALDO JAVIER

Rio de Janeiro

Encuentro; III Encontro Nacional de Estudos do Consumo: Tempos e espaços do consumo em uma perspectiva comparada; 2006

Universidade Federal Fluminense / Escola Superior de Propaganda e Marketing/RJ / Universidade Federal do Rio de Janeiro

A partir da nossa pesquisa com executivos de corporações transnacionais sediadas no Brasil e de uma análise dos pressupostos da teoria do capital humano ?a que trás surgir como teoria econômica nos anos 1960 (T. W. Schultz, G. S. Becker, etc.), é recuperada hoje como doutrina da administração ?, propomos que uma diluição da fronteira conceitual entre "consumo" e "investimento" está sendo promovida, e que a análise deste processo é fundamental para a compreensão da sociedade atual e os valores que a orientam. Assim, argumentaremos que a teoria do capital humano promove um deslocamento conceitual-valorativo do consumo para o investimento que permite, por exemplo, inusitadas formas de "postergar satisfações consumindo agora" ? o que não é muito diferente de dizer: "posterga satisfações investindo neste momento", ou, em outras palavras: "investe no teu futuro consumindo já". Curiosamente, afirmaremos, a criação de um área difusa entre "consumo" e "investimento" ajuda a entender como a ética protestante do trabalho é recuperada e reeditada numa ética do trabalho empresarial (do trabalho entendido em termos de "empreendimento" individual). Dessa forma, a teoria do capital humano ? a mesma que interessou a Foucault no seu curso sobre o Nascimento da Biopolítica em 1979 ? acaba tendo um papel importante tanto na redefinição do consumo como "investimento" quanto ao fazer desses conceitos econômicos elementos constitutivos do ethos social contemporâneo.