Os governos dos pobres urbanos e as dinâmicas de violência latino-americanas: uma análise etnográfica comparada da (im)previsibilidade cotidiana em uma favela brasileira e uma villa argentina

ANA BERALDO

Congreso; XXI Congresso Brasileiro de Sociologia; 2023

O trabalho que aqui proponho partirá de uma perspectiva comparada entre duas pesquisas etnográficas que conduzi nos últimos anos (uma em uma favela de Belo Horizonte e a outra em uma comunidade pobre de Buenos Aires) para se pensar os múltiplos governos das populações pobres urbanas latino-americanas e as relações entre esses governos e as dinâmicas locais de violência. Em produções anteriores, argumentei que as periferias brasileiras são governadas por três tipos primordiais de normatividades: estatal, criminal e religiosa. Demonstrei que o encontro entre Estado, igreja e “mundo do crime” nos bairros pobres produz um mecanismo de avaliação moral de sujeitos e comportamentos, e estabelece o que e quem será valorizado ou rechaçado. Esse mecanismo acaba por atribuir distintos valores de vida e de morte nas periferias, e por estabelecer certa previsibilidade quanto a quais sujeitos serão alvos preferenciais de violência nas margens brasileiras. Agora, sustentarei que essa previsibilidade da incidência da violência é significativamente mais débil no caso argentino, o que produz uma maior constrição dos comportamentos cotidianos e uma fragilização das redes de sociabilidade locais. Para construir o argumento, o artigo seguirá alguns eixos centrais de análise: 1) composição étnica/racial das populações; 2) origens sociais e geográficas dos moradores; 3) religião; 4) mobilização política; 5) mercados ilegais locais; e 6) relevo/arquitetura dos bairros.