INVESTIGADORES
CLAVIJO LARA Araceli Maria
capítulos de libros
Título:
Conexões multiescalares para produção de lítio na Argentina
Autor/es:
ESCOSTEGUY, MELISA; DIAZ PAZ, WALTER F.; ARACELI CLAVIJO; IRIBARNEGARAY, MARTÍN ALEJANDRO; SEGHEZZO, LUCAS
Libro:
Descarbonização na América do Sul: conexões entre o Brasil e a Argentina
Editorial:
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Referencias:
Lugar: Ceará; Año: 2022; p. 425 - 448
Resumen:
A motivação que levou à organização desta obra por pesquisadores de instituiçõessediadas em três países, Estados Unidos, Argentina e Brasil, foi a de reunir metodologias passíveis de serem aplicadas em pesquisas, na América do Sul, que abordem osaspectos de justiça social que devem envolver a transição energética no Sul Global.As soluções de descarbonização necessárias para evitar uma meta de aquecimentoglobal de +2 Graus Celsius exigem investimentos significativos em tecnologia deengenharia e capital humano (GEELS et al., 2017). O armazenamento de energiacom baterias à base de lítio será essencial para as vias de descarbonização dependentesde fontes renováveis, advindas de placas fotovoltaicas e parques eólicos (SOVACOOLet al., 2020). No centro desses desafios de energia e mudança climática estão duaspremissas de consenso emergentes sobre a descarbonização: (1) as energias eólica esolar podem atender, de forma plena, às necessidades de eletricidade do mundo seimplantadas em larga escala (HANSEN et al., 2019; LOWE; DRUMMOND, 2022);e (2) é viável, tecnologicamente, o armazenamento comercial de eletricidade (eólicae solar) utilizando baterias (DEHGHANI-SANIJ et al., 2019), permitindo o usointensivo da energia renovável de modo permanente, seguro e estável. No entanto,ambos os empreendimentos oferecem consideráveis novos riscos para as pessoas e omeio ambiente, devido ao acréscimo da demanda por terra para a implantação deparques de energia renovável e para a mineração de metais utilizados na produçãodas baterias, em especial o lítio.Este livro agrega vinte e um capítulos, com abordagens sobre conhecimentosteóricos e empíricos acerca dos desafios emergentes da descarbonização no Brasil e naArgentina, realizadas por um grupo de pesquisadores brasileiros (Universidade Federaldo Ceará, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade do Estadodo Rio Grande do Norte, Universidade Estadual da Paraíba, Institutos Federais deEducação, Ciência e Tecnologia do Ceará e de São Paulo e Universidade de Campinas)e argentinos (Universidade Nacional de Salta), vinculados ao Observatório da EnergiaEólica, liderado pela Universidade Federal do Ceará, e integrantes do projeto depesquisa “CAPES/Programa de Cooperação Brasil Sul – Sul (COOPBRASS) Editaln. 5 de 2019, Proc. 88881.368924/2019-01 “Energia renovável e descarbonização naAmérica do Sul: desafios da energia eólica no Brasil e do lítio na Argentina”; e CAPES/PRINT Proc. 88887.312019/2018-00: Integrated socio-environmental technologies and10 | DESCARBONIZAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL: CONEXÕES ENTRE O BRASIL E A ARGENTINAmethods for territorial sustainability: alternatives for local communities in the context ofclimate change.O intuito desta obra é fornecer estruturas de pesquisa e metodologias paraanálises de caminhos que busquem a descarbonização “justa” (MULVANEY, 2019;SOVACOOL et al., 2019a) para o Sul Global, especificando desafios de sustentabilidade (SOVACOOL et al., 2020) e respondendo à necessidade de estudar aspectosinstitucionais e de governança da descarbonização (EYRE et al., 2018; STERN etal., 2016), referentes às perspectivas do lítio argentino e da energia eólica brasileira.Sabemos que é necessário pensar uma agenda global para a ciência social e, emespecial, para a Geografia das Energias, com o intuito de enfrentar os desafios emergentes, que concilie demanda de energia com metas de mudança climática (STERNet al., 2016). Nesse contexto, é indispensável a formação, qualificada, de profissionaiscom uma abordagem holística, objetivo principal do projeto CAPES/COOPBRASS,de modo que os jovens argentinos e brasileiros sejam capazes de encontrar soluçõespara possíveis consequências negativas da descarbonização, orientando a formulaçãode políticas públicas e o desenvolvimento tecnológico com vistas à democratizaçãodos benefícios e à redução de danos. Um elemento crítico no desenvolvimento docapital humano nos países da América do Sul é o treinamento de jovens pesquisadores em metodologias científicas rigorosas. Devido a isso, o livro foi concebidoem duas versões, em português e em espanhol, na perspectiva de facilitar o acessoao conteúdo por estudantes, pesquisadores, gestores, empreendedores e o públicoem geral, considerando-se que a América Latina é eminentemente hispanófona, eos aspectos aqui discutidos são relevantes em contextos de outros países, como aBolívia e o Chile, que integram o “triângulo do lítio” juntamente com a Argentina, eo México que se destaca no contexto regional por abrigar conflitos entre populaçõesnativas e geração de energia eólica (DUNLAP, 2019; RAMÍREZ; BÖHN, 2021),possibilitando comparação com a realidade do Nordeste brasileiro.Os capítulos apresentam resultados parciais e arranjos metodológicos de pesquisasdesenvolvidas durante dissertações de mestrado e teses de doutorado no Brasil e naArgentina. As metodologias apresentadas neste livro têm por intuito sistematizar acoleta e análise dos dados sociais, rigorosamente e com grande suporte da literaturainternacional, na perspectiva de responder às questões sociais latino-americanasrelacionadas aos níveis de aceitação e rejeição da implantação de projetos de energiaeólica e mineração de lítio no Brasil e na Argentina. Esperamos que os capítuloscontribuam para orientar pesquisadores que mergulharam na bibliografia imensasobre descarbonização.O Brasil, e o nordeste brasileiro em particular, merece atenção pelo fato de aenergia eólica ter representado, em junho de 2022, 11,8% da matriz elétrica brasileirae a expectativa é que chegue a 13,6% até 2025, de acordo com dados do OperadorNacional do Sistema Elétrico (ONS). Em junho de 2022, havia aproximadamenteDESCARBONIZAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL: CONEXÕES ENTRE O BRASIL E A ARGENTINA | 119,2 GW de capacidade eólica fiscalizada no Ceará e no Rio Grande do Norte, deacordo com o Sistema de Geração de Informações da Agência Nacional de EnergiaElétrica (ANEEL), representando um cluster globalmente significativo de parqueseólicos. Por outro lado, o lítio nos salares da Argentina merece atenção pelo volumede reservas e a sua importância na eletromobilidade e na produção de baterias paraarmazenar eletricidade de fontes intermitentes, como parques eólicos (SOVACOOLet al., 2020). Vincular, analiticamente, os processos de energia eólica e extração delítio significa iniciar um melhor entendimento de dois elementos fundamentais paraa descarbonização, o que começa avançar uma visão holística dos futuros sistemas deemissão zero. Esta visão holística não pode ser meramente técnica, pois deve considerar também questões vinculadas à justiça – justiça social, ambiental e energética(MCCAULEY et al., 2019; SOVACOOL et al., 2019a; SOVACOOL et al., 2019b).Por fim, destaca-se que o livro foi organizado durante a pandemia da COVID-19(2020 – 2021), como uma maneira de reunir os pesquisadores remotamente e incitaros debates sobre os aspectos sociais e ambientais que envolvem a transição da matrizenergética no Sul Global, cumprindo um dos objetivos do projeto financiado pelaCAPES. Não obstante a pandemia, os investimentos planejados, tanto na energiaeólica como na extração do lítio, avançaram quanto ao volume de recursos comprometidos, ao número de grupos industriais e à ousadia tecnológica e territorial dosinvestimentos. Tudo indica que a descarbonização é um bom negócio, oferecendocaminhos para a acumulação de capital, como também precisa ser alvo das pesquisassocioambientais, com destaque às questões de governança, justiça e território.Em novembro de 2021, 120 líderes mundiais se reuniram em Glasgow, naEscócia, para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas(COP26). Apesar da intensa agenda de negociações, essa conferência tão somenteadiou os compromissos climáticos globais para 2022, em especial a redução dasemissões de carbono em até 50% e a manutenção do aquecimento global em, nomáximo, 1,5 ºC para 2030. O Brasil e a Argentina estão entre os muitos países cujosplanos existentes são inadequados para o cumprimento dessas metas.A noção de justiça, proclamada de modo enfático durante os protestos popularesna COP26, compreendida como “justiça climática”, enxerga as mudanças climáticascomo uma questão complexa de justiça social, e não apenas como um problemaambiental. Com isso, sabemos que é importante ultrapassarmos os desafios que astecnologias nos impõem e vislumbrar, em uma abordagem holística, as soluçõespara as políticas públicas das energias renováveis e o desenvolvimento tecnológicocom vistas à democratização dos benefícios e à redução de danos, em termossociais e ambientais.