Literatura e Sociedade na Grecia Antiga

ZECCHIN DE FASANO, GRACIELA C.; DE SOUZA LESSA, FABIO

Mauad X

Lugar: Río de Janeiro; Año: 2019 p. 119

9788574789408

Este livro representa um dos resultados do projeto coletivo Red argentino-brasileña de cooperación académica e intercambio en Literatura y Sociedad en la Antigua Grecia, contando com a participação de pesquisadores argentinos e brasileiros que juntos fazem uma reflexão acerca da relação entre a Literatura, a História e as Sociedades gregas arcaica (séc. VIII-VI a.C.) e clássica (séc. V e IV a.C.), isto porque, ?é possível ler as marcas da sociedade e da cultura no interior dos escritos, e (?) compreender o significado deles na sociedade? (FERREIRA, 2015, p. 82). O projeto, com financiamento do governo argentino, propõe consolidar e desenvolver atividades efetivas entre a Universidad Nacional de La Plata e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, através do convênio entre o Centro de Estudos Helênicos (CEH) e o Laboratório de Historia Antigua (Lhia) da UFRJ. Participam também a Universidad de Morón e a Universidad Nacional de Mar del Plata, ambas argentinas.Ainda que o conceito de literatura possa apresentar aspectos polêmicos na cultura grega antiga, ele se constitui como uma definição aplicada ao conjunto de textos antigos no contexto de sua produção, interpretação e posterior recepção, isto é, eles se constituem em veículos públicos de disseminação ideológica e de relações de poder. Condizente com a proposta do projeto, a do presente livro busca, por um lado, refletir como as relações de poder foram absorvidas pela narrativa literaria, por outro, desafiar essa perspectiva dominante com a análise das vozes marginalizadas. Inseridos nessa proposta, destacamos os dois eixos temporais que dão sentido a presente obra: a literatura e a sociedade na Grécia arcaica e a literatura e a sociedade na Grécia clássica. En ambos os eixos o conceito norteador será a análise do poder em crise que nos permitirá enfocar as primeiras narrativas gregas - a Ilíada e a Odisseia -, como una retórica das origens, já que os poemas de Homero foram concebidos como o início da narrativa épica ocidental, não no momento de sua aparição, mas a partir do uso político-educativo dos mesmos. O livro é aberto com um texto que privilegia a análise de Homero, enquanto o segundo capítulo aborda os hinos homéricos, de autoria anônima, que celebram vários dos personagens míticos gregos. No mesmo status dos poemas homéricos, a poesia de Hesíodo inicia a reflexão ética sobre o poder assinalado pela crise na unidade da economía agrícola e sua relação com os grupos mais poderosos. A opção de abordagem do capítulo sobre Hesíoso não é a do poder vincualdo à agricultura, mas ao feminino. No segundo eixo, que corresponde ao período clássico, o conceito de poder será enfocado específicamente vinculado a três problemáticas essenciais cuja relevância transcende até aos dias atuais. Se trata da análise da crise de poder referentes aos limites entre o público e o privado, em relação à exclusão e inclusão do Outro frente à autodefinição da identidade grega. Neste sentido, os gêneros trágico e cômico adquirem destaque. Ésquilo, Eurípides e Aristófanes serão os autores abordados nos três outros capítulos que compõem a presente obra.O que é marcante na leitura de Literatura e Sociedade na Grécia Antiga é a forma como os pesquisadores brasileiros e argentinos, com formação diversa, analisam os textos antigos, reportando-nos à relação entre a História e a Literatura. Neste momento é pertinente recuperamos o que Clóvis Gruner (2008, p. 13) discorre sobre essa interação. Segundo o autor, o pesquisador deve ?... assumir, desde a escolha do objeto, o desafio de empreender uma leitura de experiências passadas tomando como fonte privilegiada o discurso literário e as maneiras pelas quais a literatura foi apreendida em diferentes contextos espaciais e temporais?. É exatamente o que os autores oferecem ao público: trabalhos apresentando enfoques e abordagens diferenciadas.O que percebemos nos diversos textos é que a literatura não documenta o real, mas oferece aos leitores, através da trasfiguração da realidade, a capacidade de constituírem algum conhecimento da realidade social. Até porque a ficção ?está sempre enraizada na sociedade, pois é em determinadas condições de espaço, tempo, cultura e relações sociais que o escritor cria seus mundos de sonhos, utopias ou desejos, explorando ou inventando formas de linguagem?, cabendo, no caso aos historiadores, atenção à diversidade das formas literárias no tempo e às circunstâncias em que foram produzidas (FERREIRA, 2015, p. 66-7 e 72 ? grifo do autor).Por fim, convidamos os estudiosos do mundo antigo, bem como o público em geral, para uma leitura proveitosa do presente livro. À Editora Mauad, um agradecimento pelo empenho na publicação desta obra.