O novo espítito do capitalismo no Sul: paralelismos e contrastes

PEDRO LISDERO; ANA PAULA FERREIRA DAVILA; RENATA BAUNERFERREIRA; PEDRO ROBERTT

Editorial UFPel

Año: 2017 p. 437

978-85-517-0014-3

"O novo espírito do capitalismo", de Luc Boltanski e Ève Chiapello, publicado originalmente em 1999 na França, e dez anos depois no Brasil, foi de algum modo um elemento disparador de grande parte das reflexões que acabaram compondo a obra, por trazer de volta, de um modo original, a questão weberiana das dimensões "ideais" na dinâmica do capitalismo. Boltanski e Chiapello, nessa obra, enxergam na literatura gerencial a dimensão empírica do novo espírito do capitalismo, apontando que esse discurso é o responsável por difundir os valores que são oriundos de uma mudança de cunho político, econômico e social, que impacta fortemente a forma como o trabalho é organizado e que se espraia para outras esferas da sociedade, na medida em que as próprias instituições sociais se transformaram e a empresa assume um papel renovado. O capitalismo que os autores chamam de conexionista, com sua lógica de redes, traz consigo um terceiro espírito do capitalismo, que se expressa, por exemplo, fortemente no setor de Tecnologia da Informação.Em um contexto de transformações institucionais e de reorganização do processo de trabalho, apontado pelos autores, o discurso gerencial apresenta valores e práticas que enfatizam e difundem questões, tais como: chefias não autoritárias, inovação e criatividade, mudanças permanentes; mobilidade; empregabilidade e motivação. A forma com que esse discurso se difunde em nossas latitudes não é, nem pode ser, igual ao modo em que isso ocorre no contexto francês. Os artigos apresentados, nesta coletânea, são testemunhas disso. Pense-se, por exemplo, na ideia de empreendedorismo que parece ganhar, dia a dia, novos territórios. No Brasil, inclusive temos o surgimento de políticas federais que apoiam o microempreendedor individual, além de cursos que se propõem a formar empreendedores.Se a obra nasceu de um Grupo de Trabalho, ganhou então novos contornos com especialistas, do Sul do Brasil, da Argentina, do Uruguai e da Itália. Se sua origem foi a de alguns diálogos com a obra de Boltanski e Chiapello sobre o espírito do capitalismo nos tempos atuais, seu desdobramento nos levou a perceber as características multifacetadas do capitalismo no sul do planeta, onde discursos e práticas adquirem diferentes tonalidades.Os artigos foram agrupados em três partes abordando, respectivamente, questões teóricas e conceituais do novo espírito do capitalismo; discursos e experiências relacionadas ao chamado "empreendedorismo"; e as mutações do capitalismo, a partir da análise do trabalho, da gestão e do consumo. Acreditamos que o leitor terá, ao seguir o percurso desta obra, uma visão mais nítida dos contornos que adquirem as dimensões ideias do capitalismo no sul da América Latina, não apenas como ideologia, mas também como práticas que se inserem nas organizações e nos indivíduos; podendo assim avaliar em que medida os paralelismos podem vir a significar a reprodução de discursos e ideologias construídas no centro do capitalismo e de que modo os contrastes podem ser não apenas adaptações, mas também resistências, desde o Sul.