INVESTIGADORES
GOLDSTEIN Ariel Alejandro
congresos y reuniones científicas
Título:
Conferencia: Reflexões sobre a imprensa e as lideranças populares no Brasil
Autor/es:
GOLDSTEIN, ARIEL ALEJANDRO
Lugar:
Pernambuco (Online)
Reunión:
Simposio; I Simpósio Online de História e Historiografia da FAMASUL; 2017
Institución organizadora:
Famasul-Facip. Autarquia Educacional da Mata Sul
Resumen:
Meu interesse pela relação entre imprensa e política brasileira, começou durante os primeiros anos do século XXI. As batalhas dos governos progressistas na Argentina e outros países contra a grande mídia foi uma questão que despertou meu interesse. Escolhi o Brasil para estudar isso. Achava que assim, estudando outro país diferente do meu, poderia ter maior objetividade na análise.O meu livro mais recente Imprensa tradicional y lideranças populares no Brasil (A Contracorriente, 2017) compara o tratamento dado pela imprensa a dois líderes populares ? Getúlio Vargas e Lula. Vou começar fazendo referência as principais diferenças e pontos comuns nas coberturas políticas dos dois ex-presidentes:Os pontos comuns são o rechaço às lideranças populares pela grande imprensa, e o que isso significa para o Brasil. Uma liderança que tem grande apoio popular como Getúlio ou Lula tem autonomia. Autonomia da agenda pública pautada pela mídia, que quer reduzir a política exclusivamente aos ?honestos? e os ?corruptos?. Tem capacidade de convocatória e mobilização das classes populares. Isso foi percebido como um fantasma da anarquia para a elite brasileira, que teme que essas mobilizações puderam mudar a ordem pacientemente construída e virar em um ?peronismo? (nos anos 1950) ou num chavismo (nos anos 2000).As diferenças são que o discurso da imprensa brasileira tem se ?democratizado? um pouco. Com Lula, as acusações foram menos antidemocráticas do que com Getúlio. Mas realmente são maiores os pontos comuns da reação da imprensa tradicional ? Folha de S.Paulo, O Globo, Estado de São Paulo ? no Brasil frente a estas lideranças do que as diferenças.A elite brasileira é muito intolerante as mudanças na sociedade, especialmente com dois lideranças que vem a colocar o ponto numa questão que ela não quer mudar: a desigualdade social. Continuam mantendo essa visão ?udenista? sobre a ordem social. Essa ideia do Carlos Lacerda nos anos ?40 de que ?O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar?.Sou muito interessado na figura do Lacerda. Acho uma figura de grande atualidade para entender a crise brasileira. Além disso, a biografia do Lacerda feita pelo Dulles[1] e elogiosa e adoradora do personagem demais. É uma biografia escrita para engrandecer o personagem, mas não tem muita objetividade, e foi feita com uma mirada muito ?norte americanizada? sobre o Brasil. O Carlos Lacerda aparece como o grande moralizador da sociedade brasileira. Acho que não é tão assim. Ele foi muito manipulador também. E muito pouco coerente em suas denúncias e posições ideológicas, já que muitas vezes pareciam estar mais regidas pelo amor-odeio com as pessoas do que com outras coisas. Ele sim, com certeza, se percebia a si mesmo como o grande moralizador da sociedade.O seu jornal Tribuna da Imprensa foi importante para criar essa imagem negativa do peronismo como uma invasão sindical ao Brasil. E isto certamente beneficiava os interesses dos Estados Unidos no país.Isso continua muito presente, o forçamento da ordem legal para favorecer a direita. É uma visão assumida pela grande imprensa no Brasil. A grande imprensa brasileira exerce uma função chave na legitimação da ordem social excludente e conservadora.A imprensa brasileira é muito intolerante, como reflexo das elites do país. Na Argentina, você tem imprensa de centro esquerda como o Página/12. No Brasil, o PT não teve nenhum jornal de tirada média durante seus governos que defendesse as suas posições. Agora tampouco tem nenhum. Isso não é bom para a pluralidade democrática.No Brasil, vejo um consenso da grande imprensa sobre a necessidade da ortodoxia econômica que não pode ser questionado. Isso valeu tanto em 2003 quando Lula assumiu, elogiando o modelo FHC e a gestão do Palocci, como nos anos 50, quando os jornais elogiavam o plano ortodoxo que queria impor o Osvaldo Aranha no segundo governo de Getúlio, ao tempo que criticavam o Jango Goulart como ?peronista?.O Jango, como Ministro de Trabalho de Getúlio, só queria tecer relações de maior igualdade para os operários desde o Ministério, mas a grande imprensa nunca perdoou isso. Ele queria dar mais forca aos sindicatos para que pudessem defender seus direitos. Como esse jovem rapaz, grande estancieiro do Rio Grande do Sul poderia fazer isso, receber os operários no gabinete em lugar de estar nas cerimônias do Itamaraty? Jango faltou as cerimônias para receber o presidente do Perú, Manuel Odria, e ficou conversando com os operários. A grande imprensa atacava o Jango sem trégua por isso.Do mesmo jeito, agora elogiam o Henrique Meirelles, o novo ministro ortodoxo que ?vai salvar o Brasil?. A imprensa brasileira está ligada aos interesses que defendem a ortodoxia econômica. O jornal mais equilibrado, a meu ver, a Folha de S. Paulo, também é propenso a defender a ortodoxia econômica.