INVESTIGADORES
LOPEZ RUIZ Osvaldo Javier
capítulos de libros
Título:
Apresentação: Max Weber e Michel Foucault: luta de deuses, agonística do presente e trabalho do pensamento.
Autor/es:
JARDIM, FABIANA A. A.; TEIXEIRA, ANA LÚCIA; LÓPEZ RUIZ, OSVALDO JAVIER; AUGUSTO, MARIA HELENA OLIVA
Libro:
Max Weber e Michel Foucault. Paralelas e Intersecções
Editorial:
EDUC, FAPESP, FFLCH
Referencias:
Lugar: San Paulo; Año: 2018; p. 7 - 30
Resumen:
O livro que ora apresentamos aos leitores é fruto de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisadores sobre Governo, Ética e Subjetividade (GES) entre 2012 e 2013, cujo eixo central consistiu em investigar a pertinência de colocar em diálogo o pensamento de Max Weber e de Michel Foucault. A possibilidade dessa aproximação enfeixava os distintos projetos de investigação desenvolvidos por integrantes do grupo naquele momento, e se desdobrou de sugestões encontradas nas leituras que então realizávamos, em especial a partir do texto de Colin Gordon, "A alma do cidadão" (apresentado ao público brasileiro neste volume). O que nos interessava era justamente a possibilidade de confrontação entre as leituras weberianas sobre poder e sobre a condução da vida e o pensamento foucaultiano sobre relações de poder, que no final dos anos 1970 encontra uma fértil ferramenta analítica na noção de governo.Pensávamos, inicialmente, apenas em recobrir um conjunto de leituras a respeito do tema. Durante o trabalho de mapear e selecionar a produção bibliográfica, no entanto, percebemos que havia dois momentos bastante distintos em que tal aproximação havia sido tentada: a primeira, circunscrita ao final dos anos 1980 e na década de 1990, e a segunda, mais recente e mais plural, a partir de meados dos 2000. Alguns dos autores deste volume participaram dos primeiros esforços de articulação.Não há dúvidas hoje que tanto Max Weber quanto Michel Foucault são clássicos da Ciências Sociais, eis o título da primeira parte deste volume. Tanto no ocidente, onde desenvolveram suas análises, quanto no oriente, existe atualmente um vivo e crescente interesse pelas obras de ambos os autores. Nessa parte os trabalhos apresentados exploram proximidades e distâncias entre Weber e Foucault. Especificamente, Colin Gordon propõe revisitar Weber pela via de Foucault, enquanto Sam Whimster explora a noção de "condução de vida" na obra de Weber -cuja importância, como mencionado acima, vem sendo salientada a partir dos anos 1980 por Wilhelm Hennis, destacado e polêmico especialista na obra weberiana-; "condução da vida" é noção chave para pensar aproximações possíveis entre o pensamento dos dois autores clássicos. Mas, quais temas podem ser abordados a partir desses dois clássicos das Ciências Sociais? Certamente inúmeros. Alguns por serem temas que foram diretamente tratados por eles, outro por encontrarem no "método" Weber e no "método" Foucault uma via útil para poderem ser pensados de forma distinta ao já estabelecido ou dado por suposto. Entretanto, não se deve esquecer que, em ambos os casos, a palavra "método" deva ser usada entre muitas aspas porque, justamente, uma caraterística comum a esses dois autores foi a de não deixar uma receita metodológica aplicável para todo e qualquer objeto de pesquisa, mas procurarem sempre, com muita criatividade, forjar novos conceitos e categorias para apreender a realidade. Inquestionavelmente, como é mostrado no capítulo de Márcio Alves da Fonseca, os usos da história é um tema central para entender em todo seu significado tanto a compreensão weberiana quanto a atitude particular proposta por Foucault em relação ao presente histórico. Outros temas, apresentados a partir do enfoque de um de nossos autores clássicos, podem servir para mostrar os eventuais limites da proposta do outro autor. Esse é o caso do tema do anormal que, tal como trabalhado por Foucault e pelas dificuldades que oferece para a compreensão racional, pode servir para mostrar os limites de uma sociologia como a de Weber -como mostra Daniel Pereira Andrade na sua contribuição. O tema das origens da modernidade é, como é bem conhecido, uma das principais questões que está no centro das preocupações de ambos os autores. Porém, como argumenta Mariana Côrtes em seu capítulo, menos salientado e mais surpreendente é notar a importância da religião nas origens dessa modernidade ? e constatar que isso é assim na leitura de Weber, mas também na de Foucault. Por outra parte, bem conhecidos são os interesses múltiplos desses autores -como é o caso do interesse por manifestações estéticas como a música e a literatura- e a habilidade deles na forma de vinculá-los com seus temas principais. Este é, em si mesmo, um tema, como destaca o trabalho de Ana Lúcia Teixeira e, ao mesmo tempo, um caminho frutífero para a reflexão metodológica sobre a maneira de trabalhar de nossos autores. A segunda parte do livro focaliza a atualidade das perspectivas de Max Weber e de Michel Foucault. Em um primeiro momento são apresentadas novas leituras e novos escritos que foram possíveis, seja a partir da divulgação e interpretação de novos materiais até então não publicados de nossos autores, seja a partir da tentativa de ir além dos temas por eles trabalhados. Justamente, o capítulo de Arpad Szakolczai vai pôr ênfase na identificação de limites comuns e omissões importantes presentes tanto na obra de Weber quanto na de Foucault que possam ser pontos de partida necessários para pensar a partir deles a nossa atualidade de uma maneira que, no entanto, seja weberiana e/ou foucaultiana em sua forma e estilo de trabalho e reflexão. Por sua vez, no capítulo seguinte, Phillippe Chevallier pergunta-se, a partir dos últimos cursos de Foucault no Collège de France e da análise histórica que neles esse autor faz do cristianismo, pelas origens religiosas do poder moderno, procurando clarificar o quê há -se há alguma coisa- de especificamente religioso nessas análises foucaultianas. Maria Helena Oliva Augusto encerra com seu capítulo o primeiro momento da segunda parte levantando a questão de até que ponto certas aproximações entre as perspectivas de nossos autores são realmente possíveis. Especificamente, ela aprofunda, em dois conceitos centrais para nossos autores, e que dão título a este livro, a noção weberiana de "condução da vida" e a foucaultiana de "governo de si", e se questiona sobre as afinidades e convergências possíveis entre suas perspectivas. No segundo e último momento da segunda parte do livro, são justamente os conceitos "condução de vida" e "governamentalidade" os que são trazidos como dois grandes eixos para analisar o nosso presente. Como já mencionado, apresentamos aqui, em versão traduzida, o texto clássico de Colin Gordon que explorou, ainda na década de 1980, a ideia das possíveis convergências entre as obras Max Weber e de Michel Foucault em torno dos temas "racionalidade" e "governo", e que, como já assinalado, inspirou junto com os trabalhos de Szakolczai e de Whimster -e de outros vários autores depois- o início dos trabalhos do Grupo de Pesquisadores sobre Governo, Ética e Subjetividade (GES). No capítulo seguinte, Osvaldo Javier López-Ruiz levanta a questão sobre quais são as possibilidades efetivas, hoje, para as ciências sociais, de utilizar autores como Weber e Foucault para pensar os processos sociais de nosso século. Especificamente, a sua questão foca os processos de socialização e subjetivação do tipo de homem que é nosso contemporâneo ? e que também somos nós! -para interrogar-se sobre as possibilidades concretas do pensamento reflexivo-interpretativo na atualidade. Na sequência, o capítulo de Philippe Steiner coloca em relação a condução de vida e o mercado, a partir dos interesses distintos que levaram Weber e Foucault a se interessarem pela economia e pela religião, mostrando como ainda há elementos úteis nesses autores para pensar o mercado hoje como objeto de pesquisa. Já o capitulo de Fabiana Jardim encerra o livro com um trabalho referido à experiência política do presente e à atualidade do pensamento de Max Weber e Michel Foucault para interrogar, mas também para ampliar dita experiência. Para isso, ela recorre não apenas às contribuições desses autores, e de outros autores contemporâneos, mas faz referência a duas distopias contemporâneas que, conforme sua proposta, contribuem para indicar as novas formas de governamentalidade que produzem nossa experiência política hoje.