A fuga do coração capturado. Xamãs e figuras inclassificáveis no Chaco argentino (Qom e Guarani)

FLORENCIA TOLA Y SONIA SARRA

Xamanismos ameríndios: expressões sensíveis e ações cosmopolíticas

HEDRA

Lugar: RIO DE JANEIRO; Año: 2023; p. 1 - 26

Neste capítulo examinaremos determinados aspectos do xamanismo a partir de etnografia entre dois povos indígenas do Gran Chaco: os Qom (Toba) e os Guarani (Chiriguano). Analisaremos um conjunto de idéias expressas e enatuadas por xamãs e por aqueles que têm conhecimento sobre temas xamânicos para delinear a noção de pessoa que está subjacente a ditas ideias abstraídas de ambos os contextos etnográficos. Primeiramente, detalharemos o que chamamos amálgamas, (“pacotes” no caso toba e “preparados” no caso guarani), elaborados por especialistas com partes de humanos, plantas, animais e objetos com a finalidade de influenciar a vida de outras pessoas. Em seguida nos aprofundaremos no que denominamos articulação generalizada entre xamãs, vítimas, seres não-humanos, objetos subjetivados enviados por agressores e extraídos por curandeiros, e outras pessoas com capacidades inclassificáveis que se desenvolve ao longo do tempo. Embora os xamãs guarani e toba sejam -pelas características de suas ações e de seu corpo composto - a expressão extrema do amálgama e da articulação generalizada que existe por default, mostraremos que outras figuras não canonicamente consideradas como xamãs, são uma linha de fuga diante da interdependência avassaladora que governa esses universos relacionais.