IDIHCS   22126
INSTITUTO DE INVESTIGACIONES EN HUMANIDADES Y CIENCIAS SOCIALES
Unidad Ejecutora - UE
congresos y reuniones científicas
Título:
Os ?Estudos biográficos? e a emergência de novos saberes descoloniais: reflexões epistemológicas e metodológicas a partir da América Latina
Autor/es:
LETICIA MUÑIZ TERRA; ANDRES ARGUELLO PARRA; GUILHERME ARDUINI
Reunión:
Encuentro; 38º Encuentro Anual de ANPOCS (Asociación Nacional de Posgrado e Investigación en Ciencias Sociales- Brasil); 2014
Resumen:
A perspectiva biográfica, cuja origem remonta aos estudos da Escola de Chicago no princípio do século XX, foi pouco a pouco aumentando seu caudal de conhecimentos. Tanto nos Estados Unidos como na Europa este enfoque adquiriu relevância a partir de estudos que tentaram compreender a realidade social dando voz aos sujeitos e a suas histórias de vida. O espírito do paradigma biográfico, que radica na necessária articulação dos mundos objetivos e subjetivos ao longo da temporalidade, foi assim desenvolvido no marco das ciências sociais ocidentais e incorporado na América Latina nos anos 1950 e 1960, com a intenção de compreender uma multiplicidade de objetos de estudo. Desta forma, tentou-se conhecer as problemáticas latino-americanas com paradigmas, conceitos e métodos alheios a nossas realidades. A heterogeneidade cultural foi assim compreendida a partir de valores, crenças e práticas eurocêntricas. Frente a esta situação nos perguntamos: é possível apreender a complexidade e diversidade das realidades sociais latino-americanas desde os postulados epistemológicos e metodológicos da perspectiva biográfica ocidental? Quais são as potencialidades e limitações que este enfoque apresenta? As chamadas epistemologias descoloniais1 aportariam elementos para construir uma perspectiva biográfica latino-americana? Quais seriam estes elementos? Que postulados e técnicas metodológicas abririam pontes para compreender a alteridade presente no emergente continente latino-americano? Este texto põe em discussão estas questões revisitando as epistemologias e metodologias com as quais temos construído o trabalho biográfico. Esta reflexão é estimulada pelos chamados ?estudos descoloniais?, questionando os diferentes tipos de etnocentrismos que apresenta a perspectiva biográfica consolidada. 1 Optou-se pelo uso do termo ?descolonial? em lugar de ?pós-colonial? tendo em vista o fato de que a colonialidade não foi destruída pela independência política formal das ex-colônias. Trata-se de uma visão de mundo pautada pela recusa sistemática de todos os modos de pensamento distintos da tradição ocidental. Ela persiste até o presente e precisa ser enfrentada por uma reflexão igualmente sistemática sobre os diversos mecanismos etnocêntricos presentes em nossas opções teórico-metodológicas de pesquisa. 2 Serão revisados, em particular, os postulados paradigmáticos que permeiam a construção do conhecimento biográfico e os métodos utilizados para apreender as histórias de vida. Ocupamo-nos assim de repensar os horizontes teórico/epistemológicos e as particularidades da articulação entre o mundo subjetivo e objetivo ao longo do tempo, no contexto latino-americano, revisando, em acréscimo, alguns postulados metodológicos consolidados tais como: a concepção linear de temporalidade, as perguntas com as quais enfrentamos as fontes e os distintos usos da oralidade. Além disso, revisamos as possíveis metodologias emergentes (tais como o foto-ensaio) que permitem a recuperação dos patrimônios simbólicos através do uso da imagem. Este texto pretende assim contribuir com os debates atuais que permitem pensar nos estudos biográficos na perspectiva latino-americana, considerando de modo especial que tal orientação pode se converter em uma aliada singular para compreender as particularidades dos múltiplos e permanentes processos reconfigurativos do continente. Ela permite, ainda, considerar a recuperação do papel dos sujeitos na história e os múltiplos vínculos que estes estabelecem com as estruturais vitais onde se insere sua existência. Em particular, o texto se questiona sobre alguns problemas centrais dos estudos biográficos dentro das ciências sociais e está organizado a partir de uma divisão em sessões. Em um primeiro momento, formula-se uma fisionomia epistêmica da Modernidade a partir da problemática relação conhecimento-sociedade; em seguida, apresenta-se uma aproximação ao problema do sujeito moderno, tradição constitutiva dos estudos sociais. A terceira sessão desenvolve os postulados fundamentais assumidos pela perspectiva biográfica europeia e estadunidense, e a quarta comenta como frente a este panorama e as heranças conceituais da Modernidade se faz necessária uma pesquisa biográfica descolonial. A quinta apresenta algumas reflexões de um pensador colombiano a respeito do tema da biografia e da agência dos indivíduos. Finalmente, reflete-se sobre uma série de postulados metodológicos consolidados e emergentes. Por se tratar de reflexões sobre questões epistêmicas e metodológicas relevantes, não existe nenhuma pretensão de pronunciamentos definitivos a respeito. Pelo contrário, a modalidade seguida para a exposição é a formulação de algumas leituras ou proposições filosóficas que sinalizem os fundamentos do debate que deverão ser continuados ou confrontados desde outros referenciais.