IDIHCS   22126
INSTITUTO DE INVESTIGACIONES EN HUMANIDADES Y CIENCIAS SOCIALES
Unidad Ejecutora - UE
capítulos de libros
Título:
John Dewey, Tecnologia e Transformação da Condição Humana
Autor/es:
DI GREGORI MARÍA CRISTINA
Libro:
Coletânea Poética Pragmática: Filosofia Ação, Criação
Editorial:
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE BAHIA
Referencias:
Lugar: SALVADOR DE BAHIA; Año: 2021; p. 333 - 361
Resumen:
Meu interesse é explorar, nesta oportunidade, a situação da condição humana em um tempo no qual a proposta denominada transumanista prevê mudanças extremas e radicais em relação à dita condição – mudanças que alarmam e preocupam a muitos cientistas e intelectuais de nosso tempo. As consequências dessas mudanças revestem-se de interesse não somente acadêmico e científico, mas também prático, já que, em diferentes direções, afetariam todos os habitantes do planeta. Em primeiro lugar e ainda levando em conta que a literatura filosófica a respeito é mais que abundante, enfatizarei – com exceção de algum caso – aspectos do estado da questão tal como são propostos em valiosos e recentes trabalhos realizados no âmbito da filosofia ibero-americana. Neles fica claro, para começar, que a questão da natureza humana foi objeto de estudo próprio da filosofia ao longo do desenvolvimento do pensamento ocidental. Entretanto, hoje, reveste uma particular importância e não menos que notáveis dificuldades e desacordos em função de suas análises e suas possíveis consequências. Essas razões, longe de causarem desalento, permitem-nos saudar com entusiasmo o compromisso da reflexão filosófica em tempos de crise e mudança para a humanidade.Em segundo lugar, refletirei sobre algumas contribuições que considero frutíferas para a problemática que pretendo explorar. Refirome ao filósofo pragmatista norte-americano John Dewey. A Dewey preocupavam as profundas mudanças que se desenvolviam em seu próprio tempo. Sua contribuição intelectual, comprometida com uma concepção filosófica de tradição pragmatista, herdeira do pensamento de Charles S. Peirce, propõe-se a entender a própria vida humana em termos transformacionais. As mudanças e inovações que acontecem no mundo humano e material se vinculam inevitavelmente a processos de transação entre o ser humano e o mundo e estão sempre ligadas a meios, fins, interesses e valores. Trata-se de uma concepção nova com relação às previamente desenvolvidas, que envolvem a concepção da própria vida humana, ao propor que ditos fatores são parte constitutiva dela e orientam as mudanças. Assim, por exemplo, Dewey considerava que a Revolução Industrial havia transformado as condições da vida humana e outro tanto havia ocorrido em razão do desenvolvimento do conhecimento científico-tecnológico, das técnicas de comunicação, entre outros. Para Dewey, a importância do tratamento dessas questões (crises e mudanças) não é menor, já que impactam na vida cotidiana – quer dizer, afetam todos os aspectos da vida contemporânea, domésticos, industriais e políticos. Definitivamente, Dewey se interessava pela ideia de “pragma”, ao dizer de Vincent Colapietro; interessavam-lhe, efetivamente, nossos assuntos de todos os dias e nossa orientação em direção a eles. Essa orientação o conduziu também a certa preocupação com o caráter insular que havia adquirido a prática filosófica, em especial contemporânea, com seu consequente descuido do tratamento de temas vitais e urgentes. Dito caráter se havia manifestado, por exemplo, no isolamento da filosofia com relação aos avanços e às novidades propostas pelas disciplinas científicas, tanto sociais como naturais, excluindo de seu interesse, assim, um âmbito de saberes com genuína relevância e impacto na vida humana. Sua preocupação era que, enquanto o conhecimento científico avançava, tanto como suas aplicações no âmbito vital por meio das investigações e das artes tecnológicas, ao mesmo tempo a filosofia permanecia atada a certos compromissos teóricos, a certos supostos, que criam obstáculos para sua própria possibilidade de tratá-los. A partir de sua perspectiva, as mencionadas mudanças e transformações de impacto geraram a crise intelectual de seu próprio tempo: uma de tamanha magnitude que, como em outras oportunidades históricas, resultou em um apelo para novamente se refletir acerca da difícil e controvertida questão relativa à condição humana. Essa foi parte de sua tarefa guiada por renovadas perspectivas.Pode-se dizer que nosso próprio tempo registra preocupações similares, ou talvez mais graves, com relação às notórias possibilidades de mudanças, visualizadas pelas atuais tecnociências. Nossa própria crise nos leva a nos perguntar mais uma vez pela condição humana, a refletir sobre o que ou quem somos nós, os seres humanos, e em que poderíamos ou deveríamos nos converter. A proposta, o legado de Dewey, segundo entendemos, tem muito para acrescentar às nossas próprias reflexões.